“Estes 20 anos, não são propriamente de carreira, costumo dizer que são antes 20 anos a cantar, e este disco concretiza um sonho antigo. Nele, a viola campaniça não é a protagonista, também não é [um disco] de cante alentejano, [mas é] em volta das tradições que componho algumas músicas e procuro uma atualidade”, disse Pedro Mestre que, desde os 12 anos, se dedica à viola campaniça.

Este álbum, editado esta semana, é o primeiro em que Pedro Mestre se assume como compositor, e para o qual convidou alguns músicos amigos com quem partilha interpretações, como Fábia Rebordão, Janita Salomé e António Zambujo. "Já tinha composto e há muitas coisas que até se julga que são do repertório tradicional, mas esta é a primeira vez que me assumo como compositor e assino", sublinhou.

À Lusa, o músico realçou o trabalho de arranjador musical de José Manuel David. O disco conta ainda com as participações, entre outros, de Jorge Fernando, Guilherme Banza, Pedro Ferreira e Rui Vaz, dos Cantadores do Sul e do Rancho de Cantadores de Aldeia Nova.

Com Janita Salomé interpreta o tema de abertura, “Brota a água”, com os Cantadores do Sul, “Silva verde”, entre várias canções, com António Zambujo, “Jardim, dos sentidos”, com Rui Vaz, “O que é feito de ti?”, com Fábia Rebordão, "Banza". Jorge Fernando e o Rancho dos Cantadores participam em “Qual de nós valerá mais”.

“O disco – disse Mestre – foi um desafio a mim próprio, à viola campaniça; estou a desafiar a tradição, com estas sonoridades, e os outros cantadores, artistas e instrumentistas e a outros géneros musicais”. “Nesta roda do despique, criando toda esta diversidade sonora, em que a campaniça pode entrar”, o músico afirmou, referindo-se ao cordofone tradicional, que “tem um timbre rude e agressivo, mas que neste álbum se mostra dolente, mais doce e meiga, com uma sonoridade maravilhosa”.

Do alinhamento fazem parte 13 temas, na sua maioria compostos por Pedro Mestre, que nele recupera “Ilha dos vidros”, que tinha editado em 2008, num álbum homónimo, com o Grupo de Violas Campaniças.

O músico sublinhou que surge do cante e que, nesse sentido, o género faz parte do álbum, tal como a viola campaniça, tendo afirmado à Lusa que a classificação do cante como património imaterial da humanidade, pela UNESCO, no final do ano passado, “veio valorizar não só o cante, como chamar à atenção para todo o património tradicional musical alentejano, nomeadamente as modas, o cante de baldão

, o próprio cante e a viola campaniça".

“Este álbum é, sim, um passo que dou em termos de carreira efetiva e é a concretização de sonho, com o intuito de levar a música da região para outros palcos e para outras gentes”, rematou o músico.

@Lusa