Em março de 2011, também ganhou o prémio Best Cookbook Design, atribuido pelo Gourmand World Cookbook (que distingue, anualmente, livros de culinária de todo o mundo), pela sua contribuição no livro "Taberna 2780". Contudo, foi através da música que pisou o primeiro palco.

E foi, também, a música - e o seu mais recente trabalho de originais, "Fio de Luz" -o mote para uma conversa transparente com Lúcia Moniz.

Palco Principal – Esteve vários anos afastada do universo discográfico. O que motivou o regresso a estas lides em 2011?

Lúcia Moniz – Para recomeçar a compor, houve, de facto, um rasgo de inspiração vindo de mim própria, mas igualmente uma influência por parte do público que, ao longo destes anos, me abordava na rua e me questionava se eu tinha desistido da música. No início, achava estranho, mas depois apercebi-me que já tinham passado seis anos desde a minha última aventura musical e que, realmente, tinha saudades de cantar, de gravar, de fazer música nova e de a partilhar. Quando estive no Canadá a filmar uma série, estive algum tempo sozinha e esse momento introspetivo também me motivou a avançar para este projeto.

P.P. – A Lúcia é uma artista multifacetada – o seu nome está também fortemente ligado à área da representação. As experiências enquanto actriz influenciam, de alguma forma, o processo criativo das suas músicas? Ou distancia as duas áreas profissionais?

L.M. – O único ponto em comum entre a Lúcia cantora e a Lúcia actriz é que se trata da mesma pessoa. De resto, distinguem-se bem as duas coisas. Quando estou a fazer teatro ou cinema, estou a interpretar outra personalidade e a viver uma história que não é a minha, sendo que tento dar o realismo pretendido, conforme o estilo e a época dos trabalhos. Na música e no palco, exponho a minha forma de ser e aquilo que eu sinto naquele momento. Contudo, dizer que na criação de “Fio de Luz” não houve uma certa influência do mundo da representação seria estar a contrariar totalmente um dos pontos mais fortes de partida do disco. A personagem que estava a desempenhar na série onde participei no Canadá era muito otimista, via sempre o lado positivo das coisas, e, por mais problemas que tivesse, nunca se dava por vencida. Essa personagem acabou por inspirar a mensagem que tento transmitir neste álbum. Fiquei de tal forma envolvida e soube-me tão bem desempenhá-la, que fiquei com imensa vontade de ter aquela personalidade dentro da minha própria personalidade.

P.P. – Não há, portanto, lugar para o pessimismo neste disco…

L.M. – Não, neste álbum decidi mesmo não falar de desilusões e amores falhados.

P.P. – Pode dizer-se que há uma ruptura entre este e os seus álbuns anteriores? O que os distingue, a seu ver?

L.M. – Para começar, o fio condutor que une as canções deste álbum não existe nos restantes, onde eram abordadas situações pontuais. Ao longo dos últimos seis anos, também estive a absorver músicas de outros cantores, o que me fez amadurecer e descobrir coisas novas. Depois, o facto de ter tido o Fred a produzir este álbum foi algo que me desafiou imenso. Ele fez com que eu fosse mais eu. Ajudou-me a expor, no bom sentido, a minha forma de ser e de dominar a música. Desafiou-me a tocar uma série de instrumentos, como a guitarra, o piano, entre outros, quando costumo ter sempre a opção de ter outros profissionais a faze-lo por mim.

P.P. – Referiu ter absorvido, ao longo dos últimos seis anos, influências artísticas de outros cantores…

L.M. – Sim, houve, pelo menos, três artistas que me inspiraram bastante: a Gemma Hayes; a Joan as a Police Woman, pela energia e autenticidade que ela transmite na interpretação das suas canções; e a Maia Hirasawa, que me inspirou bastante numa segunda fase de gravação do álbum.

P.P. – Compõem as letras, canta, toca os intrumentos... Também faz questão de acompanharos restantesprocessos que envolvem o disco?

L.M. – Mesmo nos álbuns anteriores estive sempre presente no processo de composição das melodias. Estou sempre no estúdio, desde o primeiro até ao último dia, e até testemunho o processo de masterização do disco. Sou bastante observadora e aprendo bastante com isso.

P.P. – Mais de metade das músicas de “Fio de Luz” são cantadas em português. Por que motivo a escolha do single de avanço recaiu sobre o tema Play A Sound To Me, cantado em inglês?

L.M. – Tínhamos várias canções em cima da mesa quando fizemos uma sondagem para escolher o single. As opiniões divergiam. Uns escolhiam as músicas que mais lhes tocavam a nível emocional; outros as que mais os surpreendiam. Eu optei por escolher esta música porque foi a que mais surpreendeu as pessoas, pois a minha interpretação é feita ao piano e não à guitarra, como é costume. Como gosto de ser surpreendida pelos meus artistas favoritos, quis também fazer o mesmo.

P.P. – Como reagiu o público às diferenças que este disco transporta, durante os concertos de apresentação do álbum?

L.M. – Em termos de quantidade de público, senti alguma retração, talvez em parte pela conjuntura económica que atravessamos. Contudo, aqueles que se deslocaram e deslocam aos meus espetáculos absorvem tudo de uma maneira bastante saborosa, nomeadamente aqueles que assistiram aos primeiros concertos, antes do lançamento do disco. Considero-os um público altamente corajoso, na medida em que muitos não faziam ideia do que iriam escutar, mas ficavam até ao fim do espetáculo a absorver tudo o que lhes transmitia. Por vezes, havia um silêncio constrangedor, mas isso devia-se ao facto do público estar com uma atenção tremenda a ouvir as músicas pela primeira vez. Agora, que o público já conhece as músicas, acompanha-me a cantarolar os refrões, já há uma participação diferente, e isso é um ótimo sinal. A partir do momento em que posso contar com um público que conhece os temas, tento tirar o maior partido disso. Estou sempre recetiva a interagir com o público e também a absorver a sua energia.

Ana Cláudia Silva