
Gémeos de signo, que fazem anos em dias seguidos, Luca Argel e Filipe Sambado estão “mais próximos do que pode parecer à primeira vista”.
“Talvez não em termos de apresentação estética, mas em termos do que propomos como artistas. O gesto artístico como um gesto também político, como um gesto também de intervenção, em diálogo com o presente, o tempo presente”, referiu Luca Argel, em declarações à Lusa.
Além disso, recordou Filipe Sambado, os dois fazem música “com um pressuposto enraizado em tempos semelhantes, sendo que a música do Luca se foi desenvolvendo muito à base de variantes e possibilidades da música popular brasileira”.
“Eu fiz o mesmo também, em relação à música portuguesa”, disse.
A possibilidade de partilharem um palco surgiu a convite do CCB. A primeira vez aconteceu no ano passado, no festival Felicidade, no Pequeno Auditório.
“Correu bastante bem, tanto para nós como para o festival, e surgiu a proposta de fazermos uma versão ampliada daquilo que tínhamos feito ali”, recordou Luca Argel.
Na altura, apresentaram-se apenas os dois, com as respetivas guitarras, ‘trocando’ de temas. O músico recorda o momento como “uma coisa bem informal, bem próxima, bem intimista”.
“Agora vamos ter uma banda, há mais instrumentos, arranjos maiores, fazemos mais barulho. Mas espero que tenha o mesmo calor da primeira vez”, disse.
Com o tempo, aproximaram-se, tornaram-se amigos e foram também conhecendo melhor o repertório um do outro, e “identificando quais os pontos de contacto”.
Do repertório de Luca Argel, Filipe Sambado destaca “Lampedusa”, do álbum “Sabina”, editado em 2023.
“É uma música que me toca, por ser uma descrição tão visual de um problema tão marcante [a travessia do Mediterrâneo por migrantes], mas depois há músicas que aos poucos me vão dando muito gozo tocar e não é tanto por ser a minha preferida ou não”, afirmou, partilhando que lhe dá “muito gozo tocar” a “Gentrificasamba”.
A escolha de Luca Argel do repertório de Filipe Sambado recai, “neste momento”, em “Talha Dourada”, do álbum “Três Anos de Escorpião em Touro”, editado em 2023.
Nesse disco, Luca Argel ficou “muito colado na produção, nas sonoridades encontradas, nas opções estéticas do som que o disco tem, que é super rico”.
“Quando comecei a pegar em algumas músicas, como ‘Talha Dourada’, ‘Faço um desenho’, “Choro da rouca”, quando comecei a aprender a tocá-las na guitarra, elas revelaram-se, de uma outra forma. Porque não tinha o aparato de produção do disco, era só eu, a canção e a guitarra. Elas começaram a crescer em mim, comecei a perceber coisas, nas letras principalmente, que antes me passavam meio ao lado e depois: ‘Uau. Isto está muito bem escrito’”, partilhou.
“Sol em Gémeos” será “um espetáculo único”.
“À partida não vai acontecer mais vezes, não está nada em vista. Isso já por si é um ponto de interesse para quem nos segue. Depois há todo um envolvimento que está a ser criado e que nos motiva cada vez mais a querer descobrir melhor estas músicas. Está a ser uma experiência cada vez mais interessante [para nós] e para quem vê há esse lado de partilha”, referiu Filipe Sambado.
Em palco, além de Luca Argel e Filipe Sambado, estarão a baixista Vera Vera-Cruz, a baterista Joana Komorebi, que fazem parte da banda de Sambado, e a pianista Pri Azevedo, que tem acompanhado Argel num formato voz e piano.
“Despirmos as canções e entregá-las as estas três pessoas que nos acompanham ajuda bastante a homogeneizar este espetáculo”, referiu Filipe Sambado.
Luca Argel editou no ano passado “Visita”, álbum que junta temas representativos da sua carreira, com novas versões e um inédito gravados apenas com piano e teclado, tocados por Pri Azevedo, e homenageia o Porto, a cidade que o viu “crescer musicalmente”.
Este mês editou um EP, “Meigo Energúmeno – Luca Argel canta Vinicius”, com seis músicas, que acompanha o livro “Meigo Energúmeno – Notas para uma leitura antimachista de Vinicius de Moraes”.
Neste projeto, o músico luso-brasileiro propõe “uma reflexão ousada e necessária do legado de um dos maiores nomes da poesia e da música brasileiras, com um olhar contemporâneo e crítico sobre questões de género e representatividade”.
Filipe Sambado, que se assume como pessoa não-binária, editou em janeiro um novo álbum, “Gémea Analógica”, gravado ao vivo no ano passado e no qual apresenta versões acústicas dos temas de “Três Anos de Escorpião em Touro”, que tem estado a apresentar este ano em palcos de todo o país.
Os bilhetes para o espetáculo “Sol em Gémeos”, dia 31 de maio às 19h00 no CCB, já estão à venda e custam entre os 12,5 e os 25 euros.
Comentários