Com a casa cheia, naquela tida como uma das grandes e promissoras noites do clube portuense, é com uma sala já composta e aquecida por Freshkitos (dupla nacional) que Four Tet e Caribou actuam pouco depois da hora programada, às duas da manhã. Alternando sets de cerca de trinta minutos cada, cada um dos conceituados músicos desenvolve aquilo a que muitos apelidam de vanguarda da música eletrónica.
Ambos vivem, atualmente,o pico das suas carreiras, com percursos invejáveis e uma sólida presença em concertos e live acts um pouco por todo o mundo. Kieran Hebden (Four Tet) e Dan Snaith (Caribou) funcionam bem juntos. Acima de tudo, o lema principal é a diversão. Riem muito, falam, dançam e o público retribui os gestos.
Durante mais de três horas, a dupla desenrola ritmos de free jazz aliados a uma batida refinada.O bom gosto impera entre os dois, e, se fosse possível descrever a sua música em forma de palavras, seria algo como um melting pot de Aphex Twin com a subtileza do minimalismo de Nobukazu Takemura.
A noite já ia longa, quando o comando dos pratos passa para Paul Ritch (Live Reposal, Get Physical, Quart, Drumcode), nome maior da música eletrónica actual. Assumidamente DJ de techno, este produtor baseado em Paris traz-nos uma batida mais acelerada, ritmo que vai desenvolvendo desde 2006 na editora Resopal Schallware. Não é fácil a sua música, é refinada e nela sente-se a presença de Adam Beyer, Mathew e Richie Hawtin, cujas influências remistura dando origem ao seu som tão peculiar. A manhã nasceao rubro no clube portuense e Ritch é quem a comanda.
Paralelamente à sala principal, no espaço Traçadinho, o som foi exclusivamente dedicado a DJ's nacionais. Manu, Thinkfreak e David Rodrigues encarregaram-se da dança contínua nesta sala que, sendo mais pequena,é tambémmais acolhedora e íntima.
Para terminar a noite, Expander (Soniculture, Siteholder) sobe ao palco e atrás dos pratos continua a festa. Braços no ar, a sala apinhadíssima. Oito horas da manhã e, inacreditavelmente, o que se sente no ar é um entusiasmado alarmante e energético, como se no início da noite ainda se estivesse.
É ao fundador da Soniculture a quem cabem as honras de encerrar a noite e não o poderia ter feito de melhor forma. O seu techno, depurado ao longo dos seus quinze anos de carreira, é como que perfeito e ainda inovador.
A noite foi de festa, longa, demorada, sentida e foram bem celebrados os dez anos da Soniculture.
Texto e Fotografias: Ana Cancela
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