"Este disco vem da estrada, compusemo-lo em estúdio com muita estrada em cima, é resultado de uma banda muito habituada a estar em palco. Na verdade, Diabo na Cruz sem palco não faz sentido - o que fizemos em estúdio ganha aí uma dimensão plena", assinala.

"O facto de termos tocado tanto no Alive como na vilazinha não sei das quantas também nos ajudou a perceber aquilo de que queríamos falar e a transpor para o disco em conjunto. O primeiro disco foi uma experiência muito diferente, com uma vivência mais individual. Desta vez partilhámos uma série de coisas que até aqui não eram tão óbvias", recorda Bernardo Barata.

Dessa partilha feita na estrada resulta um retrato de um Portugal redescoberto. "Todos nós gostamos muito do nosso país mas ao mesmo tempo somos muito críticos em relação a muitas das suas coisas e esse disco mostra isso: agora há mais acuidade na nossa visão em relação ao que se passa", destaca João Pinheiro.

"Roque" popular - o de ontem e o de hoje

Depois de visitar vários recantos do país, com uma agenda de concertos que percorreu mais de 100 palcos, o baterista tem alargado essa redescoberta ao plano musical. "Desde que estou em Diabo na Cruz, o meu interesse pela música portuguesa, que já não era pouco, aumentou exponencialmente. O disco que ando a ouvir agora é um dos Sétima Legião, que é uma banda que, há cinco ou seis anos, diria que não era bem o que me apetecia ouvir... e agora, de repente, fui pegar nesse disco ou em coisas antigas de Trovante, em todos os discos dos Gaiteiros de Lisboa...".
Nomes como estes, ou como Fausto ou Banda do Casaco, são alvo de revisitação regular por parte dos membros dos Diabo na Cruz, refere o baterista. A aliança entre tradição e modernidade que os distinguiu mantém-se viva em discos como "Roque Popular", em que os Diabo na Cruz trabalham "uma língua e um património musical riquíssimos", sublinha João Pinheiro.

Num ano em que regressa aos palcos, a banda já apresentou o álbum em Guimarães ou no Porto e esta quarta-feira, 23 de maio, leva-o ao Ritz Clube, em Lisboa, a partir das 22h30. O resto do país é a meta dos próximos meses, mas haverá pelo menos uma incursão fora de portas, conta-nos ainda o baterista. "Vamos experimentar a primeira internacionalização dos Diabo na Cruz em Praga, na República Checa. Fomos convidados pelo festival Lusófona, que tem a ver com Portugal, e interessa-nos experimentar outros palcos. Mas para já o mais importante é fixarmo-nos aqui, onde as nossas raízes estão".

@Gonçalo Sá