A crise também já chegou aos concertos, como o comprovam artistas que há uns anos eram acolhidos numa casa cheia e hoje estão longe de gerar fenómenos (e nem é pela falta de seguidores). Mas no que diz respeito à oferta, o menu de atuações para este verão não perde pela falta de novidade e diversidade. Entre estreias e regressos, a lista abaixo espelha esse cenário e destaca dez concertos de nomes que temos em muito boa conta. Dez são poucos? Pois são, mas o espaço de comentários desta artigo está aberto a sugestões.
Bat for Lashes no Super Bock Super Rock - 5 de julho E eis que finalmente Natasha Khan, a voz e compositora dos Bat for Lashes, chega a Portugal. Se fossemos nós a escolher, estaria no palco principal do festival que a recebe, o SBSR. Mas talvez a intimidade e o cenário de floresta do palco secundário do festival do Meco sirva melhor a britânica e os seus mundos imaginários de morcegos, monstros e cavalos míticos. Em outubro chega o novo álbum – “The Hauted Man”- mas alguns dos temas novos já têm desfilado nos últimos concertos de Bat for Lashes e o mesmo deve acontecer por cá. VM | |
Peter Gabriel no Super Bock Super Rock - 7 de julho É um lugar à medida de Peter Gabriel: encerrar um festival, fechar com chave de ouro, ser a última memória de três dias de muita música. As expetativas estão altas para o regresso do britânico a Portugal, ainda que muitos gostassem de ver este espetáculo com a New Blood Orchestra numa sala fechada e não em ambiente de festival. Ainda assim, estamos ansiosos para ouvir Peter Gabriel e os 50 músicos com os quais gravou o mais recente disco, «New Blood», editado em outubro de 2011 e que trouxe velhos temas com novos arranjos orquestrais. Quem o viu por cá em 2004, no Rock in Rio-Lisboa, lembra um Peter Gabriel a andar de Segway e a passear-se dentro de uma bola. Sete anos depois, surpreende-nos, Peter. VM | |
Death in Vegas no Optimus Alive - 13 de julho Richard Fearless e Tim Holmes não são deste mundo, antes de uma realidade onde Iggy Pop assusta e persegue rapariguinhas ("Aisha"), Dot Allison é tão encantadora quanto sinistra ("Dirge") ou Katie Stelmanis, dos Austra, dá voz a trips dançáveis e enigmáticas ("Your Loft My Acid"). Vendo bem, talvez não seja um mundo assim tão diferente do nosso, mas estava difícil entrar nele sem ser a partir dos discos. O último, "Trans-Love Energies", é o mote para a visita dos britânicos a Portugal, numa noite que poderá ter ligação direta ao krautrock, ao techno ou ao electro contaminado por doses generosas de psicadelismo. Ou até por nada disto, já que os Death in Vegas mudam tão facilmente de sonoridades como de convidados. GS | |
Justice no Optimus Alive - 13 de julho Gaspard Augé e Xavier de Rosnay ganharam o estatuto de lendas da eletrónica logo ao primeiro álbum, "†" (2007), e têm mantido a boa reputação muito à custa dos seus concertos. Dissemos concertos? Espetáculos talvez seja um termo mais apropriado, como o dirá quem já passou os olhos pelo DVD ao vivo "A Cross the Universe", que deixaria orgulhoso (ou invejoso?) outro duo francês, os Daft Punk, também perito na conjugação música-imagem. Tal como esses antecessores, os Justice são das bandas mais requisitadas pelos adeptos da música de dança e regressam a Portugal depois de terem atuado em Paredes de Coura, em 2006. Trazem consigo o seu segundo disco, "Audio, Video, Disco", mas a música deverá ser só uma parte de um dos concertos - ou espetáculos, ou raves - essenciais de 2012. EV | |
Radiohead no Optimus Alive - 15 de julho Todos os concertos de Radiohead são imperdíveis. Para quem nunca foi, é oportunidade de os ter no currículo. Vai cair bem em qualquer conversa sobre música. Se "The King of Limbs" não servir como referência, se "OK Computer" não lembrar nada, haverá sempre "Creep". Para quem já foi, vale sempre a pena perceber por onde estão a evoluir Thom Yorke y sus muchachos, sempre experimentais, sempre inventando caminhos novos para a sua música e para o rock-pop-eletrónico-alternativo. Para quem não sabe quem são (sim, existem), pode ser que lhes soe a familiar e comecem a perceber como são uma das bandas mais influentes da passagem do milénio. LS | |
Erykah Badu no Cascais Music Fest - 19 de julho A notícia de que a norte-americana Erykah Badu viria pela primeira vez a Portugal chegou via facebook da própria artista. E é lá que ela se descreve: produtora, cantora, dj, professora, ativista, doula, ambientalista. Ao Cascais Music Festival Erykah Badu deverá trazer todas as suas facetas na sua música, que entre o soul, o jazz, o r&b e o hip hop se tem afirmado nos últimos quinze anos – desde que lançou “Baduizm” em 1997 – como o que de mais interessante se faz na soul norte-americana. Erykah Badu encontra-se a preparar o sucessor do álbum de 2010 “New Amerykah Part Two (Return of The Ankh)”, ao mesmo tempo que avança no seu novo projeto, os Cannabinoids, banda de hip-hop instrumental com queda para o improviso. Estendam a passadeira vermelha, vem aí Erykah Badu. VM | |
Garbage no Marés Vivas TMN - 19 de julho A banda de Shirley Manson não editava um disco há sete anos, pausa interrompida com o recente "Not Your Kind of People", e não pisa um palco português há mais de dez. Se nos álbuns já (ou)vimos os Garbage em melhor forma, a reputação do quarteto ao vivo não tem sentido grandes beliscões, antes pelo contrário. Não por acaso, é aí que são revisitados alguns singles clássicos dos anos 90, os mesmos que o grupo nos apresentou na Expo 98 e no T99, quando lançava pistas para a pop fim de milénio. Os tempos mudam (então na pop nem se fala) e hoje os Garbage passam por revivalistas, mas são um dos casos em que viajar no tempo pode ser irrecusável: Shirley Manson, a nossa "supervixen" preferida, ainda tem mais carisma, sensualidade e energia do que muitas garotas, e os tais clássicos, sem terem traduzido o som do futuro, não merecem ficar arrumados no passado. GS | |
Bon Iver nos Coliseus de Lisboa e do Porto - 24 e 25 de julho A indústria musical já não é o que era e há uma zona cinzenta que não para de crescer entre o que é comercial e alternativo, o que soa a estranho e diferente, inovador, quem sabe, e o que soa a familiar e pop e nos reconforta no eterno retorno da melodia. Bon Iver é a banda indie-folk-alternativa de Justin Vernon e se até há algum tempo a sua música era de culto para hipsters e outras tribos mais atentas, entretanto ganhou um Grammy e esgota Coliseus em Portugal. Etiquetas, fenómenos e discussões estéreis à parte, é uma das estreias do ano no nosso país, a não perder. Até porque a música e a sua interpretação são realmente boas. LS | |
The Roots no Sudoeste TMN - 4 de agosto Depois de terem passado por Paredes de Coura em 2005, os The Roots regressam a Portugal, desta vez mais a sul, mas ainda num dos concertos mais aguardados do verão. Formados em 1987 pelo lendário Questlove e por Tariq “Black Thought” Trotter, continuam a passear-se naa avenidas mais reputadas do hip hop sem que o estilo se sobreponha a um som característico. Trazem na carteira o seu último álbum, "Undun", que para não variar foi muito bem recebido, embora muitos os conheçam por serem a banda residente do talk show “Late Night com Jimmy Fallon” (o que mostra que ainda há alguma justiça no mundo). Quem estiver pela Zambujeira do Mar e trocar os mergulhos pelo concerto terá uma oportunidade única de ver ao vivo Questlove, um dos bateristas com mais groove do momento e apenas um exemplo da excelência musical dos The Roots. EV | |
School of Seven Bells no EDP Paredes de Coura - 16 de agosto Numa altura em que a dream pop e o shoegaze são quase condição sine qua non para uma nova banda do eixo indie-hipster (e aparentados), há poucas que defendem esses ambientes de forma tão coerente como os School of Seven Bells. Alejandra Deheza e Benjamin Curtis não acrescentam muito aos ensinamentos de uns Curve ou My Bloody Valentine, é verdade, mas não somos nós que nos vamos queixar por lhes darem continuidade. E também não nos queixamos mesmo nada que a sua música sensorial, exemplo de beleza e vertigem em sintonia, tenha como cenário o anfiteatro natural do festival Paredes de Coura, capaz de dar outra ambição a canções já de si épicas, como "When You Sing", e de ver a sua mística reforçada com a alquimia pop da dupla nova-iorquina. GS |
@Edson Vital, Gonçalo Sá, Luís Soares e Vera Moutinho
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