Passavam poucos minutos das 21h00 quando Rossdale e seus pares entraram em palco. O muito calor que se vivia dentro e fora da sala apenas foi superado pela temperatura dos decibéis à solta pelo Coliseu. Com dois novos elementos - Chris Traynor na guitarra e Corey Britz no baixo -,os Bush abriram, de forma decidida, um concerto muito consistente com um dos seus maiores hinos, Machinehead, de “Sixteen Stone”, álbum de estreia datado de 1994. O jogo de luzes disparava sobre a plateia eufórica, e o rock pujante e orelhudo dos Bush tratou do resto. Bastante comunicativo, Rossdale arriscou algumas frases em “português”, cumprimentando a sala com um “Buena noite, Lisboa!”.

Do passado para o presente, a segunda música da noite, All My Life, do mais recente disco dos londrinos, “The Sea of Memories”, que interrompeu um hiato de cerca de uma década no que toca à edição de discos por parte da banda, revelou-nos uns Bush em grande forma. Os duelos de guitarras, bem secundados pelo baixo e bateria, mostravam a coesão da banda. Seguiu-se a primeira grande explosão da noite com o clássico The Chemical Between Us, de “The Science of Things”, de 1999. A letra foi cantada em uníssono. Rossdale, rendido no final da música, deixou escapar um “…so beautiful...”. Sem perder a (muita) energia, The Sound of Winter, outra das músicas de “The Sea of Memories”, não se fez esperar, acompanhada porpalmas a compasso. O entusiasmo crescia e o vocalista entra na onda e mergulha no público, aproveitando um dos muitos inspirados solos de Traynor.

De novo em palco, Rossdale anuncia, “uma canção nova” e Everything Zen, logo aos primeiros acordes, torna o ambiente saturado do Coliseu ainda mais tenso. A entrega dos músicos é total e o entusiasmado líder da banda leva-o a ensaiar uma dança sensual com a sua guitarra, que não resiste até ao final da performance. Chega agora a vez de Swallowed, do disco “Razorblade Suitcase”. Todos na sala, sem exceção, entoam a letra em coro.
The Heart of the Matter, um diálogo bem construído entre guitarras e baixo/bateria, é gritada em plenos pulmões, e antecede Prizefighter, esta última com dedicatória especial…a Cristiano Ronaldo. A recuperar das emoções fortes do início do concerto, o público acompanha o estado mais morno da atuação do quarteto britânico que brinda ainda os presentes com Stand Up.

De forma muito segura, Rossdale e companhia agarram de novo o público com Greedy Fly, uma das mais interessantes e convincentes composições da banda. Visivelmente agradado com a atuação e com os presentes, o vocalista deixa o palco e mistura-se na multidão. Os Bush jogam, definitivamente, “em casa”. Alien, a introspetiva faixa de “Sixteen Stone”, faz brilhar o baixo de Britz e os Bush arrancam para uma das melhores prestações da noite.
Desarmado da sua guitarra, Rossdale deixa o palco e, de microfone em riste, corre pela audiência. Para no meio das pessoas, canta com elas, deixa-se fotografar, percorre o Coliseu de uma ponta à outra, bebe com os presentes, abraça as gentes. A química é total entre banda e público, a comunhão existe, resiste. O pretexto de tudo isto é The Afterlife.

Os Bush estão vivos e recomendam-se. Little Things faz com que vocalista e baterista partilhem o instrumento mais pesado da banda, e Rossdale, de baqueta na mão, ataca a bateria de Robin Goodride, o outro membro fundador do grupo. No final da música, são cerca de 23h00 e os Bush recolhem aos bastidores.

Poucos minutos depois, surgem em palco de novo os quatro magníficos e o encore começa com dois tributos a duas das maiores bandas britânicas da história. A primeira homenagem surge através de uma excelente versão de Breathe, dos Pink Floyd. Traynor brilha na guitarra e arranca um solo que não desdenharia a Sir David Gilmour. Segue-se Come Togheter, dos Fab Four de Liverpool, e o diabo está à solta no Coliseu. “Come Togheter, Right Now, Over Me”, cantava-se na sala.

Até ao final da suada e dedicada prestação da banda ainda se ouviu Glycerine e Comedown, ambas do álbum debutante da banda. A primeira começou com Gavin Rossdale sozinho em palco, tendo como única companhia a guitarra, cantando os versos deste que é um dos maiores êxitos da banda, por vezes a capela, para depois ser acompanhado pelos restantes elementos da banda. Já em jeito de despedida, Comedown, em versão longa, serviu para ter a certeza que se assistiu a um concerto que, certamente, vai permanecer na alma dos presentes durante muito tempo.

Texto: Carlos Eugénio Augusto

Fotografias: Filete