Em 2024, o mundo viveu o "BRAT Summer" - uma celebração que marcou uma nova era para a pop, cheia de energia e liberdade. Em semana de Santos Populares, o público português festejou ao vivo o aclamado álbum de Charli xcx, que se estreou esta quinta-feira, 12 de junho, no Primavera Sound Porto, trazendo toda a energia e vibração desse verão inesquecível para o palco. Foi o "BRAT Summer" à portuguesa.

Charli xcx (que não se deixou fotografar) começou a trilhar o seu caminho na música com apenas 14 anos, em 2008. "True Romance", o seu primeiro álbum, chegou em 2014, depois de se ter destacado no MySpace. Canção a canção, disco a disco, a cantora foi conquistando fãs, navegando sempre entre o mainstream e a vanguarda, reinventando-se constantemente até chegar ao estrelato absoluto.

E o seu percurso foi sempre feito de contrastes: de festas em armazéns para audiências minúsculas ao palco de grandes arenas e festivais - no início, Charli xcx chegou a dar concertos para 10 pessoas; esta quinta-feira, por exemplo, no Primavera Sound Porto, foram milhares.

Mas o crescimento da artista foi tudo menos linear. Depois do sucesso comercial de “Boom Clap” (2014), da colaboração em "Fancy" com Iggy Azalea ou de “I Love It”, com as Icona Pop, a britânica poderia ter seguido uma carreira pop tradicional, mas preferiu arriscar e experimentar novas fórmulas. Os fãs ficaram e novos continuaram a chegar.

Em 2022, chegou "Crash" e os elogios multiplicaram-se.  O disco com pop-funk energético, dream-pop texturizado, eurodance contagiante e glitch pós-internet, abriu caminho para “Brat” (2024). A artista trocou o azul pelo verde e superou as melhores expectativas. 

Com o álbum, Charli apresentou todas as suas personas - a popstar, a outsider e a produtora visionária -, sendo coroada como a rainha da festa. O sucesso não se ficou pelos tops mundiais e pelos números dos serviços de streaming: o verão foi dela, o verde tornou-se tendência e "Brat" (termo redefinido pela cantora que se refere originalmente a um pirralho) foi eleita a palavra do ano pelo dicionário britânico Collins.

Hoje, Charli é uma verdadeira força cultural. E, depois de "Brat" se tornar a banda sonora de tantos momentos marcantes, os fãs em Portugal tiveram a oportunidade de viver e sentir a energia ao vivo e a cores - uma experiência carregada de emoção, suor e alegria, onde cada música se transformou numa celebração coletiva.

Todas as palavras podem ser insuficientes para descrever a forma vibrante como o público recebeu a britânica, que retribuiu com um concerto repleto de êxitos e com explosões de energia constante - não houve tempo para pausas, tudo foi intenso.

O alinhamento da festa no Primavera Sound Porto - que o público desejava que durasse "toda a noite" - centrou-se, claro, em "Brat". Para abrir a pista, Charli trouxe "365 (remix com Shygirl)", "360" e "Von dutch", que rapidamente convidaram o público a soltar o corpo. Entre as batidas seguiu-se "I might say something stupid" e "Club classics".

A cada tema, a energia do público renovou-se e Charli xcx não escondeu a alegria. Ainda na primeira parte do concerto, chegou "Apple" e a multidão alinhou-se para recriar a popular coreografia. 

"Obrigada, Porto", agradeceu a cantora várias vezes ao longo do concerto e em português. Entre refrães, pediu mais e mais energia. O público não hesitou.

"Girl, so confusing (remix com Lorde)", "Guess (remix com Billie Eilish)" e "365" também não ficaram de fora do alinhamento. Mas a festa só ficou completa com  "party 4 u", "Vroom Vroom", "Track 10" e  "I Love It”, das Icona Pop (composta pela britânica), que fechou o arraial no Porto.

No Primavera Sound Porto, Charli xcx provou a força das suas canções, que sempre são o convite perfeito para a festa da liberdade. Foi mais uma prova de que a artista continua a consolidar o seu lugar como uma das figuras mais inovadoras e influentes da música pop contemporânea. E promete continuar.

Cenas de um casamento feliz

créditos: RICARDO CABRAL

Ainda antes de o sol se pôr, às 20h40, os Fontaines D.C. subiram ao palco Porto e receberam ovações de cabeças de cartaz. A banda reencontrou-se com os fãs portugueses, agora no norte, menos de um ano depois do aclamado concerto no Sagres Campo Pequeno, em Lisboa.

Ainda com o disco "Romance" em alta rotação - com os extras que chegaram com a versão deluxe, editada em abril de 2025 -, o grupo de Dublin continua a escrever a sua história de amor com Portugal e o público retribui - é um amor correspondido e um casamento feliz.

No Parque da Cidade do Porto, tal como tem acontecido em toda a digressão, “Romance” foi a primeira canção a ser servida. Sem pausas, seguiram com “Jackie Down the Line”, um dos grandes êxitos do disco “Skinty Fia” (2022), que pôs o público em coro desde os primeiros acordes.

No centro do palco, e durante todo o concerto, esteve uma bandeira da Palestina. "Palestina livre", evocou o vocalista Grian Chatten e a multidão aplaudiu.

O mais recente disco esteve no centro do alinhamento, com temas como “Death Kink”, “It’s Amazing to Be Young”, “Bug”, “Here’s the Thing”, “Favourite” e “In the Modern World” foram recebidas com entusiasmo pelo público. Nas viagens ao pretérito, a banda recordou temas como "Jackie Down the Line", "Roman Holiday", "Nabokov" ou "Big Shot".

créditos: RICARDO CABRAL

Na reta final do concerto, durante “I Love You”, nos ecrãs laterais de palco, o grupo projetou a bandeira da Palestina, com a frase "libertem a Palestina". Logo depois, podia ler-se "Israel está a cometer um genocídio: usem a vossa voz".

 "Starburster" garantiu um adeus em modo “até já”, numa relação de cumplicidade cada vez mais sólida entre os Fontaines D.C. e o público português, que os recebe de braços abertos e olhos postos no que vem a seguir.

Pensar o futuro e viver o presente

'Brat Summer' à portuguesa: fãs de Charli xcx pintam Primavera Sound Porto de verde
'Brat Summer' à portuguesa: fãs de Charli xcx pintam Primavera Sound Porto de verde créditos: RICARDO CABRAL

Ainda antes de Charli xcx subir ao palco Porto, Magdalena Bay, duo de Los Angeles com raízes argentinas, no palco Revolut, foi recebido com alegria pelos fãs fiéis e com curiosidade por todos aqueles que se aventuraram a descobrir a sua abordagem  inovadora e vibrante à música pop eletrónica. 

Com uma sonoridade que mistura sintetizadores, melodias cativantes e uma produção futurista, no Primavera Sound Porto, Mica Tenenbaum e Matthew Lewin convidaram o público para uma viagem carregada de referências. O alinhamento foi maioritariamente composto por temas do segundo álbum do duo, “Imaginal Disk”, com "Image", "Death & Romance" ou "Love Is Everywhere" a carimbarem os momentos altos do concerto.  

À mesma hora, no Palco Vodafone, ANOHNI and the Johnsons fizeram os festivaleiros levitar com um recital emotivo e marcado por uma tensão permanente entre beleza e inquietação. 

As preocupações ambientais dos músicos refletiram-se em palco, que teve como cenário o fundo mar. Durante uma hora e meia, o que ali se viveu foi diferente, como se o mundo tivesse parado para ouvir e sentir a voz de ANOHNI.

'Brat Summer' à portuguesa: fãs de Charli xcx pintam Primavera Sound Porto de verde
'Brat Summer' à portuguesa: fãs de Charli xcx pintam Primavera Sound Porto de verde créditos: RICARDO CABRAL

Durante a tarde, a portuguesa Surma subiu ao palco Super Bock para fechar o ciclo de apresentação ao vivo do seu mais recente disco, “alla” (2022). Em conversa com o SAPO Mag, a artista confessou que atuar no Primavera Sound Porto foi um sonho - veja aqui.

No primeiro dia, Tulipa Ruiz e Dehd abriram o palco Porto. Christian Lee Hutson, Glass Beams, Caribou, The Jesus Lizard e The Dare também atuaram esta quinta-feira, dia 12 de junho, no Primavera Sound Porto.

Central Cee, Jamie xx, Beach House, Deftones são alguns dos destaques para os próximos dias. Turnstile, TV On The Radio Wet Leg, Liniker, The Dare, Kim Deal e Momma também vão passar pelo festival.

Pelo Parque da Cidade do Porto vão também passar os artistas portugueses David Bruno, A Garota Não, Capitão Fausto ou Maria Reis.