Quando soube que iria fazer a reportagem do concerto de Andy Timmons Band em Lisboa, surgiu-me uma dúvida: fazer a reportagem doespectáculo do meu guitarrista preferido seria ético? Para ser correcta, decidi assumi-lo desde o início e, verdade seja dita, qualquer reportagem parte sempre da percepção muito própria de quem está a “reportar” e não pode deixar de ter alguma emoção à mistura. Por outro lado, ocorreu-me que as enormes expectativas que iria levar comigo – enquanto fã que vai ver um dos músicos predilectos pela primeira vez, depois de duas longas décadas de espera – poderiam equilibrar as coisas. É que o concerto teria que ser verdadeiramente excepcional para me surpreender. E não é que foi?

Sem estar a abarrotar, a sala do Santiago Alquimista esteve muito bem composta, com público de todas as idades e muito mais diverso do que os habituais fãs de guitarras e de guitarristas – apesar de não faltarem por lá alguns dos principais guitarristas rock da nossa praça.

Com Mike Daane no baixo e Mitch Marine na bateria, músicos irrepreensíveis que o acompanham na ATB, Andy Timmons subiu ao palco com “Super 70’s”. A músicaabre, também, o álbum/compilação “That Was Then, This Is Now”, que serviu de base para o alinhamento do concerto,onde Timmons desfiloualguns dos principais temas da sua carreira a solo.

O formato “clínica” deste concerto permitiu criar um ambiente mais intimista, com Andy Timmons a revelar-se, também, um grande comunicador e a intercalar o concerto com momentos de pergunta e resposta sobre os temas, as técnicas e o material utilizado. Com lançamento previsto para o verão, o álbum “Andy Timmons Band Plays Sgt. Pepper” – uma homenagem ao clássico dos Beatles - também passou por Lisboa, com a versão power-trio de “Lucy in the Sky with Diamonds” a conduzir a um dos momentos mais aplaudidos da noite.A apoteose, no entanto, foi, já perto do final, para a muito esperada “Cry for You”, com os corações apertados… como é que é possível uma guitarra sofrer tanto?

Discreto, simpático e bastante acessível – a confraternização com os fãs começou logo ao jantar, num típico restaurante lisboeta, à frente de um belo arroz de marisco – Andy Timmons transfigura-se em palco, entrega-se e funde-se com a guitarra, sem deixar que o óbvio virtuosismo e domínio técnico lhe toldem o sentido de melodia e o entrosamento com os outros instrumentos. O que o distingue entre grande parte dos guitarristas que se dedicam a projectos instrumentais, hoje em dia, é a forma como continua a privilegiar a canção… e tocar guitarra devia ser sempre assim.

“Freedom” de Jimi Hendrix, fechou a noite da melhor maneira e deixou o músico a braços com uma longa fila para os autógrafos e as fotos da praxe. Pela primeira vez entre nós (obrigado à Américo Nogueira por nos oferecer duas grandes noites), Andy Timmons comentou, a meio do espectáculo em Lisboa, que, antes de cá chegar, já sabia que ia gostar de Portugal, mas não adivinhava quanto. Por cá, também sabíamos que íamos gostar de o receber… agora, só já pensamos na próxima visita.

Liliana Nascimento