Amélia Muge gravou 16 novos temas, "nunca musicados", à exceção de "Sou filha das ervas". Além de Amélia Muge, os outros dois compositores são José Mário Branco e o grego Michales Loukovikas, que "era o parceiro ideal para levar as palavras de Amália até ao Oriente", disse a cantora e compositora à Lusa.

Referindo-se a José Mário Branco, Amélia Muge destacou a "sua poderosa capacidade em dar às palavras uma dimensão maior, a partir de uma visão musical muito conhecedora e muito abrangente".

No palco da Culurgest, Amélia Muge afirmou que irá exclusivamente interpretar poemas de Amália, juntando outros aos que incluiu no disco.

"O palco é sempre outra coisa. Os temas terão outra respiração, vão explicitar coisas menos evidentes no álbum, vão reorganizar-se em torno das muitas histórias que têm para contar", adiantou. "No palco vai haver outras [canções]. Mas tudo vai girar à volta das palavras de Amália, cantadas e projetadas em termos de imagem", acrescentou.

Amélia Muge disse à Lusa que, quando o livro "Versos", de Amália Rodrigues, foi publicado em 1997, ficou "logo deslumbrada com esta Amália desconhecida". Referindo-se à escrita da fadista, Amélia Muge afirmou: "A diversidade temática vai para lá da existente no próprio fado. As suas palavras são de todo o lado, e evocam uma enorme variedade de mundos sonoros e musicais".

"Amália é também única porque é uma herdeira fabulosa da poesia popular de raiz oral mas, ao mesmo tempo, sente-se nas suas palavras uma influência dos poetas que cantou, o que a leva a um registo poético muito pessoal pois nela as influências, mesmo mais eruditas, nunca a levam a deixar esse chão de palavras tão ancestral. Placentar, diria", declarou.

Todos os poemas para o disco, editado em finais do ano passado, foram escolhidos por Amélia Muge, que não editava desde "Periplus, Deambulações Luso-Gregas" (2012), feito em parceria Loukovikas.

"Os poemas foram escolhidos por mim. No caso do Michales, foram-lhe atribuídas temáticas ligadas ao 'tempo' e ao 'olhar', que poderiam ganhar, como ganharam, essa dimensão do 'longe' e do 'outro', tão bem expresso nos modos orientais que ele escolheu", afirmou, e, "no caso do Zé Mário, são temas muito ligados a declarações de princípios, que necessitavam de uma carga intencional muito particular".

Loukovikas musicou, por exemplo, "Os teus lindos olhos pretos" e "O tempo dantes corria". José Mário Branco assina as composições de "Tenho dois corações", "Quero cantar para a lua" e "Carta a Vitorino Nemésio". Os restantes onze temas foram compostos por Amélia Muge, entre eles "Meu coração sem direito", "Ai de mim sou filha das ervas" e "Faz pena".

"A escolha dos poemas foi feita a partir de vários critérios: não terem sido musicados, a combinação de momentos muito telúricos e luminosos com outros mais sombrios, a referência recorrente a simbolismos evocando a perda, o coração como visão do mundo, o inalcançável, o mundo rural e os pequenos universos de que é feito, os sentimentos mais ligados quer ao que se aceita quer ao que se recusa, o perto e o longe, o tempo, a auto-ironia a partir da adversidade", explicou a cantora.

Na Culturgest, em palco, além de Amélia Muge, vão estar os músicos António Pinto (guitarras), Catarina Anacleto (violoncelo), Daniel Salomé (clarinetes, saxofones e flauta), Ivo Costa (percussão), Manuel Maio (bandolim, braguesa e violino) e ainda, como convidados, António Quintino (contrabaixo) e Carisa Marcelino (acordeão).

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