Primeira parte de um conceito que usa o ano "como batuta para escrever um disco", "Seasons: Rising"chega esta quarta-feira às lojas, acompanhando a alvorada da primavera (depois de se ter estreado no serviço Music Box), e traduz meio ano de experiências do seu autor. "A ideia era muito simples: fazer música durante um ano que pudesse descrever particularidades do dia-a-dia desse período", explica David Fonseca. Neste disco encontramos, então, as "particularidades" que o cantor, compositor e músico foi encontrando durante a primavera e o verão do ano passado.
Com o arranque do outono, a 21 de setembro, será editada a segunda parte deste diário musicado que trouxe um novo processo de composição ao ex-elemento dos Silence 4: "O que liga o projeto é uma ideia de continuidade: em vez de tentar fazer um todo, há uma ideia de sequência, o que é muito pouco moderno - cada vez menos ouvimos e fazemos as coisas por sequência -, mas acho que serve bem este projeto. Há uma ideia de álbum à moda antiga, embora as canções estejam relacionadas mais por um fator temporal do que por qualquer outro".
Mais do que na meta, "Seasons: Rising" começou logo por mudar no ponto de partida, que se revelou determinante, acrescenta David: "Quando se define uma ideia de como fazer as coisas, torna-se tudo mais fácil, como se eu tivesse delineado paredes ao início do projeto. De cada vez que abordava a ideia de fazer uma canção, já a abordava do ponto de vista do fragmento, da ideia do dia, do que aconteceu neste dia especificamente, de como é que isto desagua numa canção... (...) Achei que não conseguiria fazer canções suficientes para que o projeto tivesse alguma lógica, mas o que aconteceu foi o inverso: fiz bastantes mais canções do que as que seriam necessárias".
A importância das pequenas coisas
Embora o que ouvimos em "Seasons: Rising"seja resultado de meio ano bem medido, desengane-se quem espera encontrar aqui uma acumulação de acontecimentos-chave, como num formato mais convencional de diário. Não foram esses que motivaram grande parte destas canções, recorda David: "Geralmente são coisas muito pequenas, não são aquelas que as pessoas consideram as maiores como o nascimento dos filhos, o dia em que não sei quem se casou... Tem a ver com coisas muito simples, pequenos desvios à nossa vida mais comum. Estive muito atento a estes pequenos fenómenos do dia-a-dia durante o ano inteiro e todos os dias olhava para eles de forma muito apaixonada. Depois de estar atento no primeiro mês, que foi incrível, percebi logo que havia muito mais material e ideias para explorar como canções".
E que "pequenos fenómenos" foram esses? Cada um que faça a sua história, sugere: "Muito raramente conto histórias sobre as minhas canções por uma razão muito simples: há muitos anos, quando comecei a fazer isto, uma pessoa veio ter comigo e contou-me a sua versão de uma canção minha e por que razão a impressionava tanto. Achei que a explicação desta pessoa era, de longe, maior e melhor do que aquela que a tinha gerado e percebi que, ao estar a contar o que é que efetivamente eram as minhas versões das canções, estaria a afunilá-las de alguma forma, quando acho que a música pop é exatamente o inverso disso: é as pessoas poderem ter oportunidade de agarrarem numa canção e inclui-la na sua vida enquanto conduzem, enquanto falam com os amigos... Acho que a música pop não tem de ser necessariamente ouvida sentado num sofá, com muita atenção, mas como pano de fundo para as coisas que efetivamente importam - e acho que ao explicar as canções estou a estragar essa capacidade".
Novo projeto, novos palcos
Depois de ouvir o disco, quem quiser continuar a acompanhar"Seasons: Rising" pode segui-lo, para já, nos três concertos de apresentação: dias 3, 4 e 5 de abril no TMN ao Vivo (Lisboa), Theatrix (Coimbra) e Hard Club (Porto), respetivamente.
Se noutros espetáculos David deu que falar não só, mas bastante, pela criatividade cénica, desta vez a prioridade é outra: "Os espaços em que vamos tocar são relativamente pequenos, não têm capacidade para ter tanta imaginação cénica assim. Acima de tudo, quero estar mais perto do público do que é comum. Quando toco em grandes salas, como o Coliseu, apesar de estar perto, não estou tão perto como num clube onde as pessoas estão literalmente ao pé de mim - e queria que nestes lançamentos fosse exatamente assim. Em primeiro plano estará a música e a relação muito próxima com as pessoas. Surpresas há de haver, como sempre, mas logo se verá".
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