"The Apprentice - A História de Trump" chegou aos cinemas portugueses na quinta-feira, alguns dias após uma estreia muito discreta na América do Norte.

De facto, os escassos 1,6 milhões de dólares arrecadados das bilheteiras de 1740 cinemas não confirmaram a aposta da equipa de que a polémica à volta da figura de Donald Trump atrairia o público num país fortemente polarizado a poucas semanas das eleições presidenciais.

O polémica filme sobre a juventude do 45.º presidente dos EUA e atual candidato do Partido Republicano atraiu ameaças legais dos seus advogados, principalmente por cenas profundamente pouco lisonjeiras, incluindo uma representação do ex-presidente a violar a sua esposa.

Nenhum dos grandes estúdios de Hollywood quis arriscar a distribuição, que acabou por ser lançado pelo independente Briarcliff Entertainment.

“Acho interessante que as pessoas pensem que este filme é controverso”, disse o realizador Ali Abbasi na estreia do filme em Nova Iorque na semana passada, que contou com a presença dos protagonistas Sebastian Stan (Universo Cinematráfico Marvel) e Jeremy Strong ("Succession").

E acrescentou: "Pensemos nisto: estamos a falar de uma pessoa que foi condenada em tribunal civil por agressão sexual".

A cena mais comentada mostra Trump a violar a sua primeira esposa, Ivana (Maria Bakalova, de "Borat 2"), depois de ser criticado por engordar e estar a ficar careca.

Na vida real, Ivana acusou Trump de violação durante o processo de divórcio, mas depois retratou-se. Ela faleceu em 2022.

A controvérsia tende a aumentar a consciencialização, destacou Paul Dergarabedian, analista da Comscore, "mas se isso se traduz em pessoas que querem ver é uma coisa totalmente diferente".

E antecipava corretamente: "'The Apprentice' não vai liderar as bilheteiras este fim de semana".

A esperança é que o filme beneficiasse do 'timing', como aconteceu com o bem-sucedido lançamento de "Reagan", outro filme biográfico, mas sobre o 40.º presidente.

"Tem de se atacar enquanto o ferro está quente, e neste momento os filmes políticos estão na berra", explicava o analista.

Apesar das manchetes, "The Apprentice" oferece uma visão matizada do jovem Trump (Stan) como um ambicioso mas ingénuo alpinista social, tentando desesperadamente navegar no mundo cruel dos negócios imobiliários e da política de Manhattan em meados dos anos 1970 quando conhece o homem que se tornará uma das figuras mais importantes da sua vida: o facilitador político Roy Cohn (Strong).

"Não acredito realmente que tenhamos feito um assassínio de caráter em relação Donald Trump", disse Abbasi à France-Presse no Festival de Cinema de Cannes em maio, onde aproveitou uma conferência de imprensa para convidar o visado a ver o filme antes de julgá-lo.

A 9 de outubro, dois dias antes da estreia americana, os profissionais de marketing pagaram para que um avião sobrevoasse um comício do Partido Republicano na Pensilvânia com uma faixa a dizer "Trump, vá ver 'The Apprentice' na sexta-feira".

Mesmo assim, os advogados de Trump prometeram processar os produtores, chamando "lixo" ao filme e “pura difamação maliciosa”.

O título reflete o nome do programa de televisão da NBC "The Apprentice", que trouxe fama e fortuna a Trump ao longo de 15 temporadas, começando em 2004.

O produtor executivo James Shani disse ao público de estreia em Nova Iorque que o filme foi "especialmente difícil" de lançar e elogiou Briarcliff por ser o único distribuidor com "a coragem para nos trazer até aqui".

“Acho que isso diz muito sobre o momento em que estamos”, notou.

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