As réplicas do escândalo do produtor americano Harvey Weinstein dominaram a cerimónia de abertura, que começou com a apresentação de "Isle of dogs", segundo filme de animação do americano Wes Anderson.
Uma petição na Internet para que o festival colocasse um tapete preto em vez da tradicional passadeira vermelha, em solidariedade com as vítimas de abusos sexuais, recolheu 21 mil assinaturas.
O tapete acabou por ser vermelho, mas algumas estrelas optaram por ir vestidas de preto, como na cerimónia dos Globos de Ouro em Hollywood.
A atriz alemã Anna Brueggemann lançou no Twitter a hashtag #NobodysDoll (#BonecadeNiguém) para estimular as estrelas a trocarem os tradicionais saltos altos e vestidos curtos por uma "roupa mais confortável".
No entanto, o apelo teve pouco eco. Conhecida pelo seu look andrógino, a atriz Tilda Swinton optou por um smoking.
O ator americano Bryan Cranston, que tal como Swinton, dá voz a uma das personagens do filme de Wes Anderson, manifestou-se "muito otimista" com a campanha #MeToo. "Talvez estejamos no alvorecer de uma nova sociedade", declarou à AFP.
"Isle of dogs" narra as aventuras de um menino, Atari, que procura o seu fiel companheiro Spots, colocado em quarentena numa ilha japonesa devido a uma epidemia de gripe canina.
É a quarta vez que Wes Anderson está na disputa pelo Urso de Ouro, que será entregue a 24 de fevereiro pelo júri composto, entre outros, pela atriz belga Cecile de France, pelo historiador de cinema espanhol Chema Prado e pela produtora americana Adele Romanski.
Acusações contra cineasta coreano
O primeiro festival europeu desde a explosão do escândalo sobre Weinstein, que desencadeou uma onda de denúncias contra outras personalidades do cinema, a Berlinale tinha adiantado que trabalhará para promover a igualdade e o respeito às mulheres na indústria.
Esta quinta-feira, o realizador alemão Tom Tykwer, presidente de um júri paritário que escolherá entre 19 produções o próximo Urso de Ouro, pediu que o debate "não seja alimentado de forma artificial (pelos meios sensacionalistas), nem calado por ninguém".
O diretor do festival, Dieter Kosslick, anunciou que descartou filmes que tinham realizadores, atores ou pessoas ligadas à produção que fossem alvos de acusações confiáveis de abusos sexuais.
No entanto, na véspera do início do festival, uma atriz sul-coreana, que pediu anonimato, criticou a Berlinale por ter convidado o cineasta Kim Ki-Duk e o seu filme "Human, Space, Time, and Human". A atriz acusou o cineasta de agressão e de a ter obrigado a rodar cenas de sexo improvisadas quando trabalhava num dos seus filmes.
Kosslick explicou à AFP que não vetou Kim porque algumas acusações de assédio sexual apresentadas pela mesma atriz contra o cineasta foram rejeitadas por falta de provas, acrescentando que estava à espera de mais informações.
Esta quinta-feira, mais de 100 associações sul-coreanas de grupos civis publicaram um comunicado no qual denunciaram uma "realidade injusta, em que o assediador está a trabalhar e a ser recebido em todas as partes como se não se passasse nada, enquanto a vítima (...) está isolada e marginalizada".
Dois filmes latino-americanos na corrida
Em Berlim serão apresentados cerca de 400 filmes ao longo de 11 dias.
O mexicano Alonso Ruizpalacios ("Güeros") concorre com "Museo", protagonizado por Gael García Bernal e Leonardo Ortizgris, sobre o espetacular assalto ao Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México levado a cabo por dois estudantes em 1985.
"Las herederas", primeira longa-metragem do paraguaio Marcelo Martinessi, conta a história de um casal de mulheres que enfrenta dificuldades económicas.
Gus van Sant apresentará "Don't worry, he won't get far on foot", no qual Joaquin Phoenix interpreta um tetraplégico alcoólatra.
"Damsel", apresentado como um faroeste feminista, será protagonizado por Robert Pattinson e Mia Wasikowska.
Fora da competição, o brasileiro José Padilha vai apresentar "7 dias em Entebbe", uma coprodução americana e britânica sobre a operação israelita para libertar os reféns de um avião sequestrado pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em 1976.
Também se destaca a produção da espanhola Isabel Coixet "La librería", que este mês venceu três prémios Goya; e "Viaje a los pueblos fumigados", do argentino Fernando Solanas, que denuncia os efeitos nefastos da indústria agrícola no meio ambiente e na saúde.
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