O livro surge de um desafio do Caminhos, festival que homenageia o ator com a entrega do prémio Ethos (atribuído de cinco em cinco anos), para escrever “qualquer coisa” no âmbito dessa homenagem, mas Luis Miguel Cintra, vendo-se com tempo, decidiu que poderia “fazer uma filmografia comentada”.
“Nem eu próprio me lembrava que havia tantas coisas. E há um livro da Cinemateca com o catálogo de tudo aquilo em que entrei e então resolvi comentar cada um dos filmes. A determinado momento, já era uma data de páginas e ficou um livro. A minha ideia não era essa”, disse à agência Lusa o ator e encenador que estará em Coimbra, no sábado, na cerimónia de abertura do Caminhos, momento em que será homenageado, no Teatro da Cerca de São Bernardo.
O livro, intitulado “Luis Miguel Cintra – Memórias de Uma Filmografia”, revisita todos os filmes em que participou, numa carreira em que se cruzou com realizadores como Manoel de Oliveira, Paulo Rocha, Pedro Costa, Solveig Nordlund, Joaquim Pinto ou João César Monteiro, autor da curta-metragem que marca também a primeira participação do ator e encenador no cinema, em 1970.
“Ficou uma espécie de livro de memórias, uma coisa meio sentimental da minha vida no cinema”, contou Luis Miguel Cintra que, apesar de considerar que a sua “vida era no teatro”, acabou a fazer muito mais filmes do que esperava.
Segundo o ator, foram surgindo pessoas que o admiravam e que queriam ver o seu nome associado, "a pedir para fazer uma cena ou a voz" e, sem se aperceber, chegou quase aos 100 filmes, admitindo um certo espanto com o número.
Em conversa com a Lusa, recorda especialmente uma altura do cinema em que tudo era feito de “forma improvisada”, em que se estava “a inventar o próprio método de trabalho”.
“Gosto muito que as pessoas saibam como é que se trabalhava”, vincou, referindo que o livro é também uma janela para uma parte da história do cinema, em contraste com uma indústria atual marcada pela presença de "produtores, agentes e intermediários" que o deixam "verde".
“Quando vejo os meus colegas atores a borrarem-se de medo em relação ao seu agente… detesto. Nós fazíamos tudo ao contrário, tentávamos fazer coisas que ninguém tivesse feito. Assim é que se avança”, salientou Luis Miguel Cintra.
O ator lembra-se do trabalho de preparação do filme “Ilha dos Amores”, de Paulo Rocha, em que Luís Miguel Cintra, o realizador, e o ator e enecenador Jorge Silva Melo iam “uma semana para o Gerês”.
“Ficámos lá sem fazer nada, a não ser conversa. E isso era a preparação de um filme”, recordou.
No fim deste livro de memórias, o ator refere que escreveu “um parágrafo sentimental, muito pessoal”, já que a sua relação com o cinema se dá sobretudo a partir de amigos e de amizades.
“Eu nunca quis ser ator de cinema, mas acabei por fazer porque senti que havia uma sintonia entre os realizadores e eu”, resumiu.
O livro estará disponível para venda, a partir de quarta-feira, no festival Caminhos e, em pré-venda, em caminhos.info
Além do livro e da homenagem, o festival de cinema, que começa no sábado a sua 30.ª edição (que se estende até dia 23), conta com um ciclo de programação selecionado pelo próprio Luis Miguel Cintra, que arrancou na terça-feira e termina no domingo.
Comentários