O western "Rust" terá a sua estreia mundial na quarta-feira num festival de cinema polaco, três anos depois do chocante disparo no set que matou a sua diretora de fotografia.
Alec Baldwin foi acusado de violar as regras básicas de segurança com armas na morte de Halyna Hutchins em outubro de 2021, mas o seu julgamento por homicídio involuntário foi anulado por causa de provas ocultadas à defesa no início deste ano.
A mãe da falecida diretora de fotografia, Olga Solovey, disse na terça-feira que recusou comparecer ao festival para a promoção do filme “principalmente agora que ainda não há justiça para a minha filha”.
“Baldwin continua a aumentar a minha dor com a sua recusa em pedir-me desculpa e em assumir a responsabilidade pela morte dela”, disse num comunicado.
O realizador Joel Souza, ferido no disparo, apresentará o filme no festival de cinema Camerimage – conhecido por celebrar a fotografia – em Torun, norte da Polónia.
"Quase três anos após a trágica morte de Halyna Hutchins, uma diretora de fotografia ucraniana... o Camerimage está pronto para honrar a sua memória e lembrar o seu legado ao mundo", disse o festival antes da estreia.
Acrescentou que a sessão iria concretizar “um sonho de Halyna, que ainda nas primeiras fases da produção de 'Rust convenceu'... Souza de que o seu trabalho deveria ser exibido” no festival.
Bianca Cline, que assumiu a posição de diretora de fotografia a seguir ao acidente, também estará presente, disse à agência France-Presse o porta-voz do festival, Roman Tondel, acrescentando: “Baldwin não”.
O ator vencedor dos prémios Emmy segurou um revólver durante um ensaio no set no Novo México quando uma bala foi disparada, ferindo mortalmente Hutchins, de 42 anos.
O disparo deu ao filme uma sensação de vida a imitar a arte, já que western que decorre no século XIX é sobre uma morte acidental.
Em rápida ascensão
O conceito de "Rust" veio da pesquisa que Souza estava a fazer sobre a pessoa mais jovem a ser enforcada no Velho Oeste.
Souza e Baldwin desenvolveram a ideia num argumento sobre um fora da lei que cavalga para resgatar o seu neto de 13 anos da execução por um acidente tratado como assassinato.
A armeira do filme, Hannah Gutierrez, foi condenada a 18 meses de prisão após ser condenada por homicídio involuntário por carregar acidentalmente a arma cenográfica de Baldwin com uma bala real.
O julgamento de Baldwin fracassou espetacularmente em julho, quando se descobriu que os procuradores não tinham entregue à sua defesa um lote de balas que os detetives encontraram durante a investigação.
A rodagem foi interrompida pelo acidente fatal, mas concluída no ano passado em novos locais no estado de Montana.
Hutchins era originária da Ucrânia e cresceu numa base militar soviética no Círculo Polar Ártico, "cercada por renas e submarinos nucleares", segundo o seu 'site'.
Depois de estudar e trabalhar como jornalista na Ucrânia e em toda a Europa, ingressou no prestigiado Conservatório AFI em Los Angeles em 2015.
Mais tarde, Hutchins fez um rápido progresso na hierarquia dos cineastas de Hollywood.
Ela foi nomeada pela revista American Cinematographer como uma das estrelas em ascensão da indústria em 2019.
Controvérsia à volta das mulheres
Embora a tragédia tenha motivado alguns apelos para a proibição total de armas de fogo nos sets, Hollywood tem geralmente preferido medidas menos radicais.
As diretrizes da indústria sobre o uso de armas de fogo foram revistas no inverno passado, pela primeira vez em 20 anos. Entre outras mudanças, agora especificam que apenas um armeiro pode entregar uma arma a um ator.
Os procuradores disseram que Baldwin recebeu a arma no set do primeiro assistente de realização do filme, que mais tarde se declarou culpado pelo uso negligente de uma arma mortal.
A edição deste ano do Camerimage vai até 23 de novembro e tem a oscarizada Cate Blanchett como presidente do júri.
O festival começou com polémica após a cineasta francesa Coralie Fargeat retirar o seu filme "A Substância" - que ganhou o prémio de melhor argumento em Cannes - antes da abertura.
Ela disse que tomou a decisão “depois de descobrir as palavras altamente misóginas e ofensivas” do fundador do festival, Marek Zydowicz.
Num artigo publicado este mês na revista Cinematography World, Zydowicz descreveu o crescente reconhecimento de diretoras de fotografia e realizadoras como “crucial”.
Mas então perguntou: “Podemos sacrificar obras e artistas com realizações artísticas notáveis apenas para abrir espaço para uma produção cinematográfica medíocre?”
Os comentários, pelos quais Zydowicz mais tarde se desculpou, também levaram o realizador vencedor do Óscar Steve McQueen ("12 Anos Escravo") a retirar o seu filme "Blitz" em protesto.
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