
"Acredito que estamos numa situação extremamente perigosa". Com "A House of Dynamite" ("Prestes a Explodir" em Portugal), um 'thriller' político sobre um ataque nuclear contra os EUA, Kathryn Bigelow deseja consciencializar sobre o risco de que a Humanidade pode ser aniquilada.
"É muito importante iniciar um diálogo [sobre a questão nuclear]. E talvez existam políticas que possam ser modificadas, tratadas ou, pelo menos, analisadas. Seria um passo enorme", comentou a cineasta durante um encontro com jornalistas no Festival Internacional de Cinema de Veneza.
Nascida em 1951, a norte-americana diz que ainda se lembra dos treinos feitos quando era criança, como esconder-se debaixo da mesa em caso de ataque nuclear, especialmente durante a crise dos mísseis de Cuba, em 1962.
Na disputa pelo Leão de Ouro, "A House of Dynamite", produzido pela Netflix e com data de lançamento a 24 de outubro, acompanha militares e funcionários confrontados com o lançamento de um míssil nuclear por um inimigo desconhecido contra o território dos EUA.
No elenco destacam-se Idris Elba, Rebecca Ferguson, Gabriel Basso, Jared Harris, Tracy Letts, Anthony Ramos, Moses Ingram, Jonah Hauer-King, Greta Lee e Jason Clarke.
De uma base no Alasca, da sala de crise da Casa Branca ou do centro de comando de dissuasão nuclear, no Nebraska, o filme detalha com precisão como seria a resposta de Washington. E com apenas 19 minutos - o tempo de voo da ogiva antes do impacto - para tomar uma decisão.
Realismo

Para rodar "Prestes a Explodir", Kathryn Bigelow trabalhou com o argumentista Noah Oppenheim, um ex-jornalista especializado em temas nucleares.
"Desde o início, a missão era: vamos falar com pessoas que têm estes empregos, que estiveram nestes ambientes, e descobrir como exatamente um ato dessa natureza aconteceria", explicou Noah Oppenheim, vencedor do prémio de Melhor Argumento em Veneza "Jackie" em 2016.
Oficiais de inteligência contribuíram para construir um argumento credível, assim como "vários militares de alta patente", explicou Bigelow, que se declarou "fascinada" pelo ambiente militar, ao qual já dedicou vários filmes, como "Estado de Guerra" (2009), que a tornou a primeira mulher realizadora a ganhar o Óscar.
São pessoas que "passaram toda a sua vida e sua carreira a estudar isto, capacitando-se para desenvolver uma perícia" sobre a dissuasão nuclear", apontou Oppenheim.
"O presidente dos EUA, não interessa quem seja, só tem a autoridade para decidir se utilizamos ou não o nosso arsenal nuclear", acrescentou o argumentista.
Amnésia coletiva

No filme, Idris Elba vive um presidente dos EUA confrontado com o dilema de reagir ou não ao ataque, cuja origem desconhece.
"Render-se ou suicidar-se", resume no filme o adjunto do conselheiro de Segurança Nacional.
"Não importa quem está na Casa Branca, no final das contas é um ser humano. A personalidade desse ser humano concentra-se neste botão. É um tema que todos deveriam debater", declarou o ator britânico em Veneza..
"Como a aniquilação pode ser uma medida de defesa? O que estamos a defender se já não resta nada? Esta é a minha pergunta", afirmou Kathryn Bigelow.
Mas, nas últimas décadas, "coletivamente decidimos deixar-nos adormecer. Estamos numa amnésia coletiva que esperamos acabar" com este filme, disse Noah Oppenheim.
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