“Sempre tivemos uma intuição de que poderíamos juntar o Gil Vicente com outro autor mais contemporâneo, e o Beckett é desses autores contemporâneos que poderia viver com o Gil Vicente […] também porque havia um chamamento destes dramatículos do Samuel Beckett a uma peça muito pequena do Gil Vicente, que nunca foi feita”, afirmou o encenador Nuno Carinhas, à margem do ensaio de imprensa da peça “Uma Noite no Futuro”, que decorreu esta tarde, no Teatro Carlos Alberto.
A peça “Uma Noite no Futuro” junta a "Velha Toada" e "A Última Gravação de Krapp", de Samuel Beckett, e o "Auto da Fé", de Gil Vicente, num espetáculo que dá atenção particular à memória.
"A memória é um tema evidente nestes três textos, mas de alguma forma, todos eles visam a prosperidade, o futuro, a sua própria identidade, e a fé é um futuro, portanto esta é uma peça que está entre o passado e o futuro. Uma Noite no Futuro é a noite em que Gil Vicente e Samuel Beckett se encontram, essa é a noite, uma noite que não é possível no presente, nem foi no passado", salientou Pedro Sobrado, presidente do Conselho de Administração do TNSJ, que partilha a dramaturgia com Nuno Carinhas.
Em palco são cinco as personagens que sublinham esse conceito de recordação: dois velhos que lembram o passado num mundo moderno, um homem que dialoga com uma gravação que fizera 30 anos antes e dois simples pastores que tem como interlocutora a fé.
Segundo Nuno Carinhas, são as "ausências" e os "desafios que Beckett faz num teatro que não é naturalista", que tornam a peça "num local muito interessante daquilo que é o quotidiano, e uma forma de arte que se impõe através da escrita e que depois se projeta no corpo dos atores".
"Este espetáculo é um pedacinho do universo, não é apenas sobre o quotidiano que está fechado numa caixa. É a nossa vontade de dizer muito em pouco tempo e num espaço pequeno", frisou o encenador.
"Uma Noite no Futuro", que se estreia na quinta-feira e fica em cena no TeCA até dia 22 de dezembro, pode ser vista à quarta-feira e sábado, às 19:00, quinta e sexta-feira, às 21:00, e, ao domingo, às 16:00, tendo um custo de entrada de dez euros.
Na sexta-feira, dia 14 de dezembro, José Augusto Cardoso Bernandes, professor na Faculdade de Letras de Universidade de Coimbra, Nuno Carinhas, diretor artístico do TNSJ, e Pedro Sobrado juntam-se para uma conversa após o espetáculo.
A sessão de dia 16 de dezembro, domingo, conta com tradução simultânea em língua gestual portuguesa e áudio-descrição.
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