O primeiro, "Elas entram e ficam!", de Tânia Dinis, estará em cena na sexta-feira e no sábado, dias 16 e 17 de junho, no palco do Rivoli; o segundo, "Teoria das Três Idades", encenado por Sara Barros Leitão, subirá a palco no domingo e na segunda-feira, dias 18 e 19, no Mosteiro de São Bento da Vitória.
O TEP é a mais antiga companhia portuguesa de teatro, tendo estreado o primeiro espetáculo em 1953, sob a direção artística de António Pedro, precursor do teatro moderno em Portugal. Em 2012, após um período de dois anos como encenador residente, Gonçalo Amorim assumiu a direção artística. Amorim vê na associação fundadora - o Círculo de Cultura Teatral – o segredo da longevidade do TEP.
Em conversa com a agência Lusa, este responsável revelou que os dois espetáculos para o aniversário do TEP - "Elas entram e ficam!" e "Teoria das Três Idades" - resultam de uma “ativação do arquivo”, de onde saíram duas leituras diferentes.
O ponto de vista da Tânia Dinis, explica o diretor artístico do TEP, “são as mulheres que fizeram parte do arquivo”, nas suas fotos, textos, ou até nas capas dedicadas à censura, muitas vezes resultante de associações com a “sexualidade feminina”.
"Elas entram e ficam!" parte do arquivo fotográfico de ensaios e espetáculos da companhia e, como o nome indica, coloca a mulher como protagonista, trazendo-a para cena através de fotos “em tamanho real”, com que Tânia Dinis interage, numa viagem que vai traçar uma linha temporal, permitindo descobrir quantas personagens femininas se encontram nos textos representados, “ao longo de 70 anos”.
"A Teoria das Três Idades", de Sara Barros Leitão, é uma reposição de um espetáculo que o TEP estreou a propósito dos seus 65 anos, explicou Gonçalo Amorim à Lusa, e que recupera o “arquivo morto” e as “micro-histórias” que gravitam em torno da existência da companhia.
Ao contrário de Tânia Dinis, Sara Barros Leitão encontrou um arquivo “em caixas e remexido” - fruto da tentativa de salvar o arquivo da água a entrar no local onde estava armazenado – tendo-se interessado pelo chamado “arquivo morto” como sejam "as cartas da mãe que escreve a perguntar se há cursos de teatro para o filho ou as tabelas onde é registado tudo o que aconteceu no dia do espetáculo, como as tabelas quando foi o 25 de Abril ou [primeiro] 1.º de maio”.
"Teoria das Três Idades" representa as várias camadas que o arquivo do TEP tem – o visível e os bastidores - onde as “micro-histórias das pessoas que se interessaram pelo teatro da companhia e das pessoas que foram gravitando à sua volta também constrem a história de um país”, descreveu.
Sublinhando que a programação deste ano gravita toda em volta dos 70 anos do TEP, Gonçalo Amorim revela ainda estar a construir, com uma companhia chilena, um espetáculo a propósito dos 50 anos do 25 de Abril, a assinalar em 2024, e dos 50 anos do Golpe do Chile, que impôs a ditadura militar do general Pinochet no país, em 11 de setembro de 1973.
A peça, com encenação sua, estreia-se em setembro, no Chile, e em março, no Porto.
Este ano, com o Museu da Cidade, o TEP retoma ainda, em dezembro, no Tríplex, a exposição "70 anos TEP – Arquivo Vivo", que promoveu no Museu do Teatro, em Lisboa, agora numa versão mais completa, numa viagem através do seu espólio, pela história da companhia profissional de teatro português.
“Vamos editar também um livro com a 'Trilogia da Juventude' - um conjunto de três espetáculos que fizemos entre 2017 e 2019", adiantou Gonçalo Amorim, referindo-se às criações próprias "O grande tratado de encenação”, “A tecedeira que lia Zola” e “Maioria absoluta”, que abordavam o passado português através da perceção e das utopias revolucionárias de gerações das décadas de 1950, 1970 e 1990, respetivamente.
As residências artísticas, acrescentou o diretor artístico do TEP, também vão continuar.
Ao longo destes 70 anos, passaram pelo TEP algumas das figuras mais carismáticas da cultura portuguesa, e foram representadas obras dos principais autores nacionais e estrangeiros.
Hoje, com uma nova casa, no CACE Cultural do Porto - antiga central da EDP, em Campanhã - o TEP, como Gonçalo Amorim não esconde, sonha um dia voltar a ter palco próprio onde apresentar os seus espetáculos, como antes acontecia no Teatro António Pedro e na Sala Estúdio, que ardeu nos anos de 1990.
“Há sempre a ambição que a companhia mais antiga do país possa vir a ter o seu próprio teatro”, afirmou, acrescentando que o CACE poderá vir a oferecer essa possibilidade.
A celebrar 70 anos de existência, o TEP, diz Gonçalo Amorim, “está numa fase que precisa de consolidação e de continuidade”, para a qual contribuem os apoios quadrienais da Direção-Geral das Artes, permitindo-lhe perspetivar os próximos anos e prosseguir um trabalho de abertura do seu espólio à sociedade civil e da sua sede à comunidade artística.
Gonçalo Amorim realça ainda a importância da colaboração e apoio das câmaras do Porto e de Matosinhos, “sítios privilegiados” para a estreia dos espetáculos do TEP, que não tem palco próprio.
Comentários