"Não é não", lembrou esta quarta-feira a procuradora ao terminar os seus argumentos no novo julgamento do ex-produtor de cinema Harvey Weinstein, para convencer o júri de que as denunciantes foram "violadas" pelo outrora todo-poderoso de Hollywood, um caso que se tornou símbolo do movimento #MeToo.

"Ele violou três mulheres, todas disseram não", afirmou a procuradora Nicole Blumberg, que reviu caso por caso para demonstrar ao júri que Weinstein tinha "todo o poder" e "todo o controlo" sobre as alegadas vítimas que o levaram ao banco dos réus.

"O acusado pensava que estava acima da lei", acrescentou. "Digam-lhe o que ele já sabe: que é culpado dos três crimes", defendeu Blumberg.

Para a defesa, por outro lado, o fundador dos estúdios Miramax apenas manteve relações sexuais consensuais com as três mulheres, que alegadamente pretendiam seduzi-lo a fim de obter oportunidades na indústria cinematográfica.

"Não estamos aqui para fiscalizar o quarto, a menos que tenha havido uma violação", respondeu o Ministério Público.

Os últimos argumentos da defesa e do Ministério Público, na terça e na quarta-feira, concluíram seis semanas de depoimentos neste novo julgamento contra o ex-produtor, quase oito anos após as denúncias que impulsionaram o #MeToo e que levantaram o véu sobre os abusos sexuais no mundo profissional.

O juiz Curtis Farber disse que instruirá os membros do júri na quinta-feira de manhã, o último passo antes de que se reúnam a portas fechadas para deliberar.

Nova condenação?

Harvey Weinstein a 4 de junho de 2025

Os jurados terão que decidir se Weinstein, de 73 anos, acusado por dezenas de mulheres de ser um predador sexual, é culpado de agredir sexualmente a ex-assistente de produção Miriam Haley e a ex-modelo Kaja Sokola em 2006, e de violar a aspirante a atriz Jessica Mann em 2013.

O produtor de clássicos como "Pulp Fiction" e "A Paixão de Shakespeare" já foi condenado em 2020 a 23 anos de prisão pela agressão sexual a Haley e pela violação de Mann, mas um tribunal de recurso anulou esse processo e a sentença por defeitos de forma e ordenou a realização de um novo julgamento.

Weinstein, doente e em cadeira de rodas, atualmente está preso a cumprir outra pena de 16 anos, imposta por um tribunal de Los Angeles, também por agressão sexual.

O réu não se pronunciou no novo julgamento, mas os seus advogados esperam que, oito anos após as primeiras acusações e com a nova realidade política nos EUA, o clima atual seja mais favorável para o seu cliente.

Segundo o seu advogado Arthur Aidala, Weinstein foi mais vítima das ambições das suas acusadoras, que utilizaram "a sua beleza e os seus encantos" para seduzi-lo e alcançar as suas aspirações profissionais.

A prova desta teoria - com forte nuance machista - seria que todas mantiveram contacto com o magnata após as alegadas agressões.

"Todas mantiveram" as relações com ele porque "sabiam que precisavam estar do lado dele", respondeu Blumberg. "Temiam as represálias" do então poderoso produtor, conhecido em Hollywood por fazer e destruir carreiras.