Em 2019, no âmbito desta celebração de abertura ao público, a par das obras de Maria Helena Vieira da Silva, o museu apresenta, de 21 de março a 23 de junho, um projeto expositivo com a assinatura de Pedro Cabrita Reis: "A metade do céu".

A exposição reúne exclusivamente obras realizadas por mulheres artistas portuguesas, oriundas das mais diversas áreas do pensamento e da criatividade, e cujos trabalhos estão situados num arco temporal de produção situado entre meados do século XX e a atualidade.

Serão apresentadas obras de 60 artistas, do Barroco de Josefa de Óbidos à contemporaneidade de criadoras como Maria Helena Vieira da Silva, Paula Rego, Helena Almeida, Lourdes Castro, Menez e Graça Morais, Ana Hatherly, Adriana Molder, Filipa César, Ana Jotta, Joana Vasconcelos, Ângela Ferreira, Fernanda Fragateiro, Graça Costa Cabral, Leonor Antunes, Sofia Areal e Clara Menéres.

Pedro Cabrita Reis propõe uma exposição coletiva "inteira e declaradamente liberta de qualquer condicionalismo temático, desprovida de uma narrativa curatorial e que se quer, aliás, alheia ao artifício discursivo", segundo a apresentação da mostra, enviada pelo museu à agência Lusa.

O curador convidado pela Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva foi buscar o título a uma expressão atribuída ao líder chinês Mao Tsé-Tung, segundo o qual toda e qualquer mulher sustenta "A metade do céu".

Pedro Cabrita Reis traz ao Museu Vieira da Silva “uma importante seleção de obras pelo seu caráter pluridisciplinar”, convocando o desenho e a pintura, a escultura e a instalação, a fotografia e o vídeo.

Esta exposição "perscruta o lado lunar de cada artista, dando a ver, sempre que possível, o que menos se espera dela – uma ou outra obra não tão frequentemente mostrada, talvez até desfasada, de algum modo inusitada", segundo o mesmo texto, dando o exemplo de Menez, Ana Hatherly e Helena Almeida.

"A metade do céu traduz uma certa ânsia pelo estremecimento do desvio epifânico, dessa queda absolutamente primordial. Por certo, mesmo a mais ilustre e estudada artista é aqui apresentada para e na iminência de ser redescoberta, uma e outra vez, pelo olhar contemporâneo", acrescenta.

Ana Isabel Miranda Rodrigues, Ana Pérez-Quiroga, Catarina Leitão, Fátima Mendonça, Graça Pereira Coutinho, Luísa Correia Pereira, Patrícia Garrido, Rita GT, Rosa Carvalho, Salomé Lamas, Sara & André, Sara Bichão, Sarah Affonso, Susanne Themlitz, Túlia Saldanha e Vanda Madureira são outras artistas que estarão representadas na exposição.

Criada ainda em vida de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), uma das mais importantes pintoras portuguesas, e instituída por decreto-lei em 10 de maio de 1990, a Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva tem como missão garantir a existência de um espaço, em Portugal, onde o público possa contactar permanentemente com a obra do casal de artistas.

Quando França sofreu a ocupação nazi, na Segunda Guerra Mundial, Vieira da Silva e Arpad, que viviam em Paris, tentaram regressar a Portugal, mas o presidente do Governo da ditadura, António Oliveira Salazar, retirou a nacionalidade portuguesa à pintora e ao marido, cidadão húngaro de ascendência judia.

Vieira da Silva e Arpad partiram então para o Brasil onde estiveram exilados entre 1940 e 1947, permanecendo apátridas até 1956, ano em que lhes foi concedida a nacionalidade francesa.

O Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva foi inaugurado a 3 de novembro de 1994, num edifício da Praça das Amoreiras, cedido pela Câmara Municipal de Lisboa, e apresenta regularmente exposições com a obra do casal ou de artistas com os quais tiveram algum tipo de ligação de amizade.

A Fundação Calouste Gulbenkian custeou as obras de remodelação e a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento apoiou o projeto na área da investigação.

A coleção do museu cobre um vasto período da produção de pintura e desenho do casal: de 1911 a 1985, para Arpad Szenes (1897-1985), e de 1926 a 1986, para Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992).

Também foi desejo de Vieira da Silva legar um espaço de investigação aberto ao público, cumprido com a criação do Centro de Documentação e Investigação que, além de desenvolver pesquisas internamente, tem acolhido investigadores portugueses e estrangeiros.

Na rua João Penha, ao Alto de São Francisco, junto à praça das Amoreiras e ao museu, está também aberta ao público a antiga casa-atelier da pintora, com uma programação própria de exposições e conferências, acolhimento de atividades propostas pela comunidade e residências para artistas e investigadores.