
Dominique Besnehard, criador da série "Ten Percent" (Amazon Prime Video), questionou na quinta-feira o comportamento das atrizes que acusaram Harvey Weinstein ou Gérard Depardieu de violação, durante uma animada audiência parlamentar na Assembleia Nacional francesa (a câmara baixa do Parlamento).
O produtor e antigo agente de casting de 71 anos, há 50 na indústria, ele próprio acusado pelos atores Farouk Benalleg e Pierre Bégué de agressão e assédio sexual numa reportagem da revista francesa L’Obs de fevereiro de 2024, que desmentiu, afirmou pertencer “ao velho mundo”, no início da sua audição perante a comissão de inquérito à violência cometida no cinema.
Foi nomeadamente questionado sobre o comportamento de Gérard Depardieu, com quem trabalhou no passado, e a favor de quem assinou uma petição de apoio, "por lealdade" à sua filha, a atriz Julie Depardieu.
Na resposta, colocou em causa a atriz Charlotte Arnould, que acusa Depardieu de a ter violado na sua casa. O ator foi indiciado neste caso e o Ministério Público solicitou um julgamento.
“Normalmente, os cursos de representação fazem-se num curso de representação, não se vai à casa de um ator”, disse Besnehard sobre o alegado comportamento da queixosa.

Quanto a Depardieu, assumiu o seu apoio a um homem que viu “transformar-se” e “retorcer-se após a morte do filho”, Guillaume, em 2008, aos 37 anos. Dominique Besnehard disse já não ter contacto com a lenda do cinema, mas recordou a “presunção de inocência”.
O antigo agente mais poderoso do cinema francês também abordou o caso Harvey Weinstein, o produtor e grande magnada de Hollywood até à sua queda retumbante em 2017, quando dezenas de mulheres o acusaram de assédio, agressão sexual ou violação, desencadeando a onda de choque global #MeToo.
"Vi isso!"
Neste tema, voltou a questionar o comportamento das queixosas: "Quando era agente, via atrizes a exagerar um pouco. Não se vai para um hotel com o realizador. Peço desculpa, Weinstein, que ia ao Festival Cannes, certas atrizes iam ao seu quarto para talvez fazer carreira americana. Vi isso! Tive até atrizes a meu cargo que foram lá!"
Por outro lado, elogiou a coragem de atrizes que, segundo ele, recusaram este tipo de propostas: “Talvez seja a pessoa que melhor conhece as atrizes”, acrescentou, citando as estrelas “Nathalie Baye, Isabelle Adjani...”.
“Não acredito que Isabelle Huppert, uma jovem atriz, fosse para um hotel com um produtor que tem má reputação, lamento”, disse.
Apesar de tudo, Dominique Besnehard saudou “o movimento #MeToo”: “É importante porque agora já não podemos dizer que não sabemos”.
A figura da indústria francesa quis sublinhar a coragem da atriz Noémie Kocher, que acusou de assédio sexual, muito antes da vaga #MeToo, o cineasta Jean-Claude Brisseau ("Coisas Secretas", "Os Anjos Exterminadores"). Este foi condenado em 2005 e morreu em 2019.
Segundo a agência France-Presse (AFP), confrontado pela presidente da comissão de inquérito, a deputada ambientalista Sandrine Rousseau, Dominique Besnehard perdeu a calma, durante uma das audições mais animadas desde a criação do órgão, que entrevistou dezenas de responsáveis da cultura e do cinema, e deve apresentar o seu relatório dentro de um mês.
“Se é o meu julgamento, paro! Pare de dar sermões a toda a gente, já chega!”, disse à deputada. No entanto, acabou por ficar mais de uma hora e pôde ouvir a réplica.
“Longe de serem sermões, como descreveu, a questão é como garantimos o respeito pelos direitos e corpos das pessoas. Muitas pessoas abandonaram o cinema por causa disso, o cinema perdeu talentos (…) porque houve uma forma de complacência”, sublinhou Sandrine Rousseau.
“Diz sempre que é dos velhos tempos, terminarei dizendo-lhe: 'Seja destes tempos, senhor Besnehard, porque também precisamos de si!'”
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