Nas vésperas da comemoração do 25 de Abril, a Baixa de Coimbra recebe um concerto onde 53 músicos, a maioria jovens, se juntam para interpretar o álbum de Fausto Bordalo Dias, tido como uma das obras de referência da música popular portuguesa, disse à agência Lusa o diretor musical do concerto, Buga Lopes.
O espetáculo foi uma das propostas vencedoras da primeira edição do Orçamento Participativo da Câmara de Coimbra, tendo recebido 33 mil euros, referiu o também autor da candidatura.
No entanto, a sua criação começou com um desafio da Rádio Universidade de Coimbra lançado a Buga Lopes, em 2018, para fazer um concerto de tributo ao disco de Fausto, na ocasião do 32.º aniversário daquela rádio.
"Criou-se uma relação muito grande entre músicos e grupos e, no fim do espetáculo, pensámos todos: ‘Então, e agora? Não vamos deixar isto morrer'. Decidimos criar a figura informal que é o Coletivo de Artistas Independentes [CAIS] de Coimbra e entregámos uma candidatura ao Orçamento Participativo. A partir daí, aumentámos a grandiosidade do espetáculo e passámos a tocar o álbum na íntegra", contou à agência Lusa o jovem formado em direção musical e composição.
De cerca de 30 músicos em palco, passam agora para 53, que vêm de diferentes contextos e experiências.
Há membros do Coro Misto da Universidade de Coimbra, da Tuna Académica, da Filarmónica de Taveiro e do grupo "Há Música na Aldeia", de Miranda do Corvo, para além de jovens que estudam jazz, que têm formação clássica ou que tocam em bandas de rock da região, salientou Buga Lopes.
"Embora a obra do Fausto seja extremamente icónica, muitos dos músicos a participar no espetáculo são mais novos, estão a dar os primeiros passos e, para eles, é o seu primeiro contacto com a obra", vincou.
Já para o diretor musical, que nasceu no ano em que o disco foi lançado, "Por Este Rio Acima" foi um dos primeiros e poucos vinis que teve e que acabou por acompanhar e influenciar a sua carreira.
"É um disco que tem uma identidade muito própria. O disco não está feito só para a música - qualquer pessoa que o oiça fica envolvido na narrativa. Outra coisa que o torna tão especial é que, mesmo na utilização da linguagem tradicional, o Fausto não fez as coisas de uma forma normal e corriqueira", explica.
Segundo Buga Lopes, o trabalho de arranjo e composição do álbum "foi extremamente cuidadoso", com "escolhas harmónicas extremamente avançadas, mas que, ao mesmo tempo, tudo é tocado com simplicidade. Existe uma fusão entre uma linguagem e um som tradicional com uma sofisticação e uma série de cromatismos que não é comum encontrar neste tipo de música".
O espetáculo não vai seguir a sequência original do álbum, antes tentar um compromisso entre a sequência do disco, a sequência da obra "A Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto (em que Fausto se baseia para "Por Este Rio Acima"), e aquilo que é necessário para montar "um espetáculo dinâmico".
Em palco, estará uma formação de orquestra clássica, acompanhada de músicos que tocam instrumentos associados à música popular portuguesa, como adufes, guitarra clássica, cavaquinhos e violas braguesas, sem esquecer os instrumentos da região, como é o caso da guitarra de Coimbra e da viola beiroa.
O espetáculo vai decorrer às 21:30, com entrada livre.
Comentários