Há pouco tempo, Javier Bardem entrou numa pequena cápsula submarina e desceu até às profundezas do Oceano Antártico, mas não estava a rodar cenas de um filme e sim a juntar-se a uma campanha internacional que defende que a zona seja declarada um santuário marítimo.

O ator espanhol partiu em janeiro de Punta Arenas [Chile] a bordo do "Arctic Sunrise", o navio quebra-gelo do Greenpeace, embarcando numa aventura de sete dias por um dos lugares mais recônditos da Terra, como explicou esta terça-feira em Berlim numa conferência de imprensa a que chegou, apropriadamente, de barco.

"Embora tenha viajado muito, nunca tinha visto nada parecido. O trabalho da natureza supera tudo", afirmou ao apresentar, junto a membros do Greenpeace, a campanha para proteger uma área de 1,8 milhão de km2 entre a Antártida e Argentina.

A Comissão do Oceano Antártico irá reunir-se em outubro para discutir a proposta da União Europeia, inicialmente promovida pela Alemanha, para proteger a biodiversidade da área criando um santuário marítimo, que se tornaria o maior do mundo.

Um "pirata" pouco dado ao mar -

Além de ceder o seu prestígio à campanha - que num mês reuniu um milhão de assinaturas "online" -, Bardem está a produzir um documentário, "Santuario", sobre a sua expedição, com o realizador Alvaro Longoria, que ganhou um Goya em 2013 por "Hijos de las nubes, la última colonia", sobre o Saara Ocidental.

O ator de "Piratas das Caraíbas" brincou com o seu instinto marítimo.

"Não é o mesmo quando se está num navio a sério. Os marinheiros apontavam para mim a rir-se porque não parava de vomitar", contou.

O ator faz parte do pequeno grupo de cerca de 50 pessoas no mundo que subiram a bordo de um submarino científico de dois lugares para explorar as profundezas nesta área localizada no Mar de Weddell, perto da Península Antártica.

A 270 metros abaixo da superfície do mar, o ator vencedor do Óscar disse que não sentiu nenhuma pressão: "Quase cheguei a adormecer. Pensei que talvez não tivesse oxigénio suficiente, mas a realidade era que estava completamente relaxado perante aquela paisagem de uma escuridão total".

O seu envolvimento na campanha, explicou, responde ao interesse de qualquer cidadão: "Vou completar 49 anos, tenho dois filhos [com a atriz Penélope Cruz] e não podemos deixar este mundo morrer, não é preciso ser cientista para perceber isso".

Contracorrente de Trump

"Precisamos de líderes políticos que façam a diferença, que nos guiem", reclamou.

Bardem considerou, por outro lado, que a obstinação de Donald Trump, que lidera a maior potência mundial, em negar a existência das mudanças climáticas, tem o seu lado positivo.

"O facto de ele ser contra faz com que mais pessoas se juntem à causa", garantiu.

"Se vir que [Trump] está a fazer algo, faça o contrário e estará certo", insistiu.

De acordo com o Greenpeace, pelo menos 30% das águas internacionais deveriam ser protegidas da atividade humana e declaradas santuários marítimos, em comparação com os atuais 1%.

Para a ONG, que realiza uma missão de três meses nesta área do Oceano Antártico para estudar os ecossistemas, a pesca representa um sério risco, especialmente pela captura do krill, um pequenos crustáceo que é o principal alimento das baleias e indispensável para toda a cadeia alimentar.

Sandra Schöttner, membro do Greenpeace, defendeu a importância da campanha para proibir os interesses económicos não só da indústria pesqueira, já presente na área, mas também "os projetos de mineração e petróleo e gás que preparam alguns governos", disse, sem citá-los.

Schöttner aplaudiu a proposta paralela da Argentina e do Chile para criar uma área marítima protegida (MPA) na zona e apresentou-os como um "bom exemplo para proteger e explorar de forma controlada", referindo-se às suas atividades de pesca.