Em entrevista à agência Lusa, a presidente do conselho diretivo do HCP, Inês Homem Cunha, explicou que o objetivo é comemorar a data com uma programação extensa até ao final do ano e em vários espaços de Lisboa, para chamar novos públicos.
O mais antigo clube de jazz europeu em atividade foi fundado oficialmente a 19 de março de 1948, quando Luiz Villas-Boas, melómano e fundador do clube, preencheu a ficha de sócio número um.
É uma reprodução dessa ficha, afixada na parede junto à bilheteira, que dá as boas vindas a quem entra no pequeno espaço da Praça da Alegria, em Lisboa.
Setenta anos depois, Inês Homem Cunha – a primeira mulher da história do HCP a chegar à direção - quer aproveitar a efeméride para se abrir a mais públicos.
O objetivo é contrariar a ideia de que o clube se fecha sobre si próprio, virado para os que lá tocam e que gostam de jazz, e mostrar a atividade do HCP fora de portas, disse.
A semana mais intensa de programação acontecerá de 19 a 25 de março, com a presença em Lisboa do saxofonista Joe Lovano para um concerto em trio no HCP, uma 'masterclass' na Escola de Jazz do Hot e um concerto com a orquestra do clube no Teatro Municipal São Luiz.
Outro dos destaques da programação será a realização do Kids Can, um projeto europeu itinerante para crianças e jovens, apoiado pelo programa Europa Criativa, do qual o HCP faz parte juntamente com as organizações JazzDanmark (Dinamarca) e JazzKaar (Estónia).
“É uma grande vitória na vertente da escola para crianças e adolescentes. Espero que tenha uma adesão muito grande de pessoas que queiram saber como é que ensinamos jazz a crianças”, sublinhou Inês Homem Cunha.
Entre as várias atividades programadas, algumas ainda por confirmar, sobressai já em fevereiro a celebração da primeira ‘jam session’ de jazz em Portugal, a 6 de fevereiro de 1948, semanas antes da fundação do HCP.
Foi no café Chave de Ouro, em Lisboa, e nela participaram nomes como Art Carneiro, Pops Whitman, Jorge Costa Pinto, Pedro Martins Lima e José Luís Tinoco.
Alguns dos músicos vão estar presentes na comemoração da ‘jam session’, a 06 de fevereiro, conduzida por Bernardo Moreira, outro nome histórico do jazz e do HCP.
Pela etiqueta discográfica do clube, criada em 2014, serão editados pelo menos seis discos que recuperam os concertos do ciclo “Histórias do Jazz em Portugal”, organizado em 2014 e 2015, em Lisboa e em Guimarães, por António Curvelo e Manuel Jorge Veloso.
As conversas com dezenas de músicos, realizadas nesse ciclo, serão também compiladas num livro a editar no final do ano.
Haverá ainda um ciclo de piano a solo em fevereiro e março, com nomes como Paula Sousa, Mário Laginha e Filipe Raposo, e uma celebração especial do Dia Internacional do Jazz, a 30 de abril.
A par do clube e da escola de jazz, parte do trabalho do HCP passa também pelo núcleo museológico, assente sobretudo no espólio deixado por Luiz Villas-Boas, que morreu em 1999.
Segundo Inês Homem Cunha, houve financiamento público para fazer catalogação, inventariação e digitalização de documentação, em vários suportes, mas o trabalho está atualmente parado, e talvez seja retomado depois das comemorações.
“O ideal, e é o meu sonho e de muitas gerações de presidentes do Hot, era termos um local onde esse núcleo estivesse guardado, protegido e onde fosse possível consultá-lo. É o que chamamos a Casa do Jazz, é um sonho que estamos a trabalhar aos poucos e com muita paciência. Havemos de chegar lá”, disse.
Em setenta anos de história, o Hot Clube de Portugal terá vivido o momento mais difícil em 2009, quando a cave onde funcionava há décadas, num edifício na Praça de Alegria, ficou destruído num incêndio, sobrando hoje apenas a fachada do prédio.
Dois anos depois, em 2011, o Hot Clube de Portugal retomou a atividade duas portas ao lado da cave antiga, num espaço mais moderno, mas, ainda assim, pequeno. E com a ficha de sócio de Luiz Villas-Boas a relembrar quando tudo começou, em 1948.
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