Na quinta-feira ao final do dia, Hélia Correia era esperada na escola preparatória de Tonalá, um dos municípios vizinhos de Guadalajara e conhecido sobretudo pela produção de artesanato, uma das mais importantes de todo o México.
Durante cerca de uma hora, Hélia Correia, 69 anos, Prémio Camões em 2015, conversou com uma plateia de cerca de 60 adolescentes, começando logo por dizer que não sabe falar sobre as obras que escreve e que não conta nada dela própria, porque é uma coisa muito pessoal.
Ouve-se um ligeiro bruaá na sala e Hélia Correia, apesar de assertiva naquela declaração, acaba por contar alguma coisa da vida pessoal e profissional, suscitando perguntas entre os estudantes.
“Não sou uma escritora. Sou uma pessoa que escreve. Escrever não é um projeto, é uma coisa que chega”, disse. Horas antes, no Pavilhão de Portugal da feira, Hélia Correia, telegráfica, dizia: “Não escrevo para escapar à morte. Não uso a escrita para nada, sirvo-a”.
Depois de explicar aos alunos de Tonalá como começou a escrever aos quatro anos, Hélia Correia incentivou-os a aprenderem várias línguas, em nome da diferença e da diversidade, quando “o mundo está a caminhar para um conhecimento comum”.
Elogiando “a literatura tão rica” do México, que passa pelo escritor Juan Rulfo, a autora portuguesa recebeu dos alunos um resumo da história de Tonalá, fundada por indígenas zapotecas e focada nas festas de Santiago, nas quais os habitantes envergam máscaras de semblante carregado e cabeleiras feitas com crina de cavalo.
Foi já no final, depois de uma sucessão de fotografias, poses e abraços com vários alunos, que Hélia Correia se despediu, deixando-lhes uma palavra.
“Quando nos separamos e pensamos nessa pessoa com saudade. É uma palavra muito bonita e portuguesa”, explicou a Prémio Camões.
A 32.ª Feira Internacional do Livro de Guadalajara, que tem Portugal como convidado de honra, termina no domingo.
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