Em declarações à agência Lusa, o autor, catedrático de Literatura da Universidade da Beira Interior, defendeu uma “iconografia policial para Lisboa”, tal como Londres tem Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle, Paris tem o comissário Maigret, de Georges Simenon, Veneza, o comissário Guido Brunetti, de Donna León, e Barcelona, o detetive Pepe Carvalho, de Manuel Vasquez Montalbán.
Apesar de “haver escritores portugueses policiais muito interessantes e de muita qualidade, ninguém se atreveu a propor um detetive para Lisboa, e aqui a Rosarinho Amaral surge como a candidata ao lugar", disse o escritor à agência Lusa. "Vamos ver se acontece ou não, mas é uma tentativa da nossa capital passar a ter um perfil policial” narrativo.
O futuro desta personagem “está nas mãos dos leitores”, argumentou o autor, recordandio que Pepe Carvalho, de Vasquez Montalbán, “nos ilumina muito sobre a cidade de Barcelona”, em Espanha.
A narrativa de Gabriel Magalhães percorre diferentes pontos da geografia lisboeta, do Museu dos Coches, onde se dá o primeiro crime, até ao Parque das Nações, no outro extremo da cidade, passando pela Estrela, por Campo de Ourique, pelo Bairro Altoe pelas avenidas da República, Almirante Reis e dos Estados Unidos, Carnide, Santa Apolónia e o aeroporto.
Quanto ao leque de personagens, Gabriel Magalhães afirmou que, “de certa forma, faz uma espécie de nova versão 'Painéis de S. Vicente' de Fora, atuais, sem aquelas figuras tão sérias”.
Além do cenário do Museu dos Coches, o autor recuperou o episódio da cadeira onde o ditador António de Oliveira Salazar deu uma queda e precipitou a sua saída da cena política, “um facto patusco que tem um peso tão grande na História de Portugal”.
Decidiu por isso “juntar a cadeira de Salazar aos coches”, que deslocavam lentamente os reis e outros dignitários - “e a cadeira simboliza a imobilidade de Salazar, portanto, a não deslocação”.
O autor afirmou que se divertiu a construir a narrativa de "Os Crimes Inocentes", com os coches dos reis, a cadeira de Salazar, os turistas, juntando-lhes outras personagens.
o autor reivindicou para este seu novo título, a categoria de “romance negro”, narrativa policial em que “a investigação de um crime, não é só a descoberta do criminoso, mas também a compreensão da sociedade que gera essa situação e, no fundo, a sociedade é o verdadeiro material de que se faz essa criminologia". "São romances que procuram ser uma radiografia da sociedade”.
“É o que acontece n’‘OsCrimes Inocentes’ que é um romance policial, mas ao mesmo tempo é uma radiografia da sociedade portuguesa”, disse, acrescentado que havendo “alguma crítica, há muita ternura em relação a alguns personagens, a muitas dimensões da sociedade portuguesa, ao ambiente lisboeta, um cerro erotismo suave, que se espalha pelas coisas, um colorido e há assim um abraço a certa beleza de Lisboa”.
“Houve mais a paixão de compreender Portugal, e o que se refere a Portugal pode também aplicar-se a outras nações”, ressalvou.
Referindo-se à escolha do Museu dos Coches, o autor afirmou que “a cultura foi um pretexto para o jogo e a diversão, ao transformar-se o museu num espetáculo de 'variedades', entre aspas, subentenda-se”.
Gabriel Magalhães, catedrático de Literatura na Universidade da Beira Interior, nasceu há 53 anos em Luanda, viveu em Espanha, onde estudou e leccionou, mantendo colaborações com jornais espanhóies como o diário El Pais.
Em 2014 publicou “Como Sobreviver a Portugal Continuando a Ser Português”.
Em 2009 foi distinguido com o Prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores, na categoria de Ficção, pelo romance “Não Tenhas Medo do Escuro”.
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