O anúncio da publicação do último volume dos diários do escritor, no ano em que se comemoram os 20 anos da atribuição do Nobel, foi feito hoje pelo editor Manuel Alberto Valente, editor das obras de Saramago desde 2014, e por Pilar del Rio, na Fundação José Saramago, em Lisboa.
O próprio José Saramago já havia referido – e escreveu-o no final dos “Cadernos de Lanzarote V” - que estava a trabalhar nesse diário e que havia a intenção de o publicar, em 2002, o que acabaria por não acontecer porque os compromissos e viagens que surgiram na sequência da atribuição do Prémio Nobel ao escritor impediram-no de continuar.
Surpreendente é o seu aparecimento, de forma casual, como contou Pilar del Rio, companheira de muitos anos do escritor e presidente da Fundação José Saramago.
No final de fevereiro, quando fazia uma pesquisa no computador, à procura de uma conferência para o caderno de conferências de Saramago, que está a ser organizado por Fernando Gómez Aguilera, precisou de abrir a pasta com o nome “cadernos” e encontrou este caderno.
“Foi uma surpresa”, confessou, explicando que sabia da existência de cinco cadernos e de mais alguns textos, mas não da existência de um sexto caderno.
“Com a atribuição do Prémio Nobel, a vida de Saramago alterou-se. O tempo para desenhar o caderno não foi igual aos anteriores. Há apontamentos, anotação de páginas”, disse Manuel Alberto Valente.
Trata-se de “um livro muito relacionado com a América continental, com o Brasil e o México, sobretudo, com a Argentina, o Uruguai, a Colômbia”, adiantou Pilar del Rio.
Para o editor, não é o facto de haver referências ao México e à América que justifica que a Feira Internacional do Livro de Guadalajara homenageie Saramago, mas sim o facto de serem os 20 anos do Prémio Nobel.
“Faz sentido que a edição espanhola saia pensando na maior feira do livro do mundo hispânico, como faz sentido que em Portugal saia no dia em que é inaugurado, em Coimbra, o Congresso Internacional sobre José Saramago [08 de outubro], um ato de relevância cultural enorme, tal como as comemorações dos 20 anos da atribuição do único Nobel da Literatura portuguesa”, afirmou.
O que não faz sentido para Manuel Alberto Valente é que em Portugal nada esteja a ser preparado para assinalar este aniversário, um acontecimento que “não pode ser esquecido”.
“Lamento que algumas entidades portuguesas, ou Portugal no seu conjunto, não tenham tomado consciência da importância do que isto significa, sobretudo num ano em que não vai haver Prémio Nobel. É como se fosse porque são os 20 anos do Nobel de Saramago”, criticou.
Na opinião do editor, “o país devia ter consciência de que o Nobel não é uma coisa que aconteceu há 20 anos e ficou aí, é como se fosse atribuído todos os anos em Portugal”.
“Não tenho conhecimento de nenhuma celebração, não tenho conhecimento de que a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros prepare alguma manifestação especial e não houve na Feira do Livro de Lisboa nenhuma referência especial aos 20 anos do Nobel”, continuou.
No entanto, a Fundação Saramago quer celebrar os 70 anos do aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos juntamente com os 20 anos do Nobel, o que acontecerá na Culturgest com um concerto da Orquestra Metropolitana de Lisboa, a interpretar uma composição de António Pinho Vargas, a partir da obra de Saramago, que se intitula “Memorial”, revelou Pilar del Río.
Sobre o novo caderno de Lanzarote, Manuel Alberto Valente adiantou que a primeira edição terá uma “capa especial” e não a capa caligrafada que tem sido a marca da publicação das obras de Saramago pela Porto Editora.
Este último diário de Saramago começa em janeiro de 1998 e termina em 1999, com apenas duas entradas para esse ano: 09 e 14 de janeiro.
Na mesma altura em que é publicado o “Último caderno de Lanzarote”, a Fundação Saramago publica “Um país levantado em alegria” – cujo título é uma homenagem a Eduardo Prado Coelho – escrito por Ricardo Veil, e traduzido para o espanhol por Pilar del Río, sobre “aqueles dias do Prémio Nobel a José Saramago”.
Este “complemento absolutamente necessário” ao último caderno de Lanzarote – como o classificou Pilar del Río – é um retrato de como foram os dias do Nobel, a partir de 03 de outubro, com o primeiro português a saber que o Nobel ia ser atribuído a Saramago (um português da Universidade de Estocolmo chamado para traduzir o discurso de justificação), até meados de dezembro, depois da entrega do prémio ao escritor, contou Ricardo Veil.
Terá ainda uma segunda parte só com mensagens que o escritor recebeu na altura, entre as quais uma seleção de cartas anónimas.
Trata-se de um livro que “vai dar pistas extraordinárias sobre esse momento” da atribuição do Nobel, e que a Fundação Saramago vai ter disponível para venda numa caixa, juntamente com o último caderno de Lanzarote.
Em Espanha, os dois livros são editados pela Alfaguara e serão publicados dois dias depois de saírem em Portugal, a 10 de outubro.
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