“Depois não temos absolutamente mais nada”, disse à agência Lusa o ator João Meireles, um dos elementos da direção da companhia, acrescentando ser tudo que sabe.
Os Artistas Unidos fizeram na terça-feira o despejo do Teatro da Politécnica, onde se encontravam desde 2011, e que têm de abandonar até ao final do mês. Em março de 2022, foram informados pela Universidade de Lisboa de que não seria renovado o contrato de arrendamento deste espaço à entrada do Jardim Botânico, em antigas instalações da Faculdade de Ciências.
A companhia não sabe onde irá continuar a temporada que devia começar no próximo dia 19 de setembro, com “Búfalos”, de Pau Miró, que vão estrear no próximo no Citemor, em Montemor-o-Velho, na próxima semana. Só espera conseguir representá-la em Lisboa. Onde e quando é que não sabe.
A solução da Câmara Municipal para um novo espaço dos Artistas Unidos aponta para o lugar de origem da companhia, no antigo espaço d'A Capital, no Bairro Alto, de onde tiveram de sair em 2002, por ordem da própria câmara. Mas o local ficou abandonado todos estes anos, está em ruinas e as obras de reconstrução demorarão anos.
Para os Artistas Unidos a solução tem de ser imediata. Estão em atividade, têm pessoas no quadro e um contrato de financiamento a cumprir com a Direção-Geral das Artes, no âmbito do Programa de Apoio Sustentado, que define uma programação, num determinado intervalo de tempo, por uma estrutura que garante emprego nas artes. E têm tudo para o garantir, só não têm onde.
Sem instalações, os 12 trabalhadores da companhia poderão ter de ficar num “famigerado teletrabalho”, já que o pequeno armazém apenas possibilita a colocação de uma mesa e de duas ou três pessoas onde exista Internet e se possa ligar um ou dois computadores, disse João Meireles à Lusa.
A incógnita estende-se ao cumprimento da programação prevista. “Com uma muito drástica redução do número de récitas e da dimensão da atividade”, apenas têm como seguras as quatro semanas no Variedades, de novembro a dezembro, com a peça de Jon Fosse.
“A não ser que haja mais informação que desconheço, é só isso que existe no Parque Mayer com os Artistas Unidos”, ressalvou João Meireles.
Admitindo que a companhia pode mesmo desaparecer, João Meireles disse que uma das questões que colocam agora é saber se “a cidade de Lisboa e o Estado português querem mesmo que exista uma companhia como os Artistas Unidos”.
A assistir ao despejo esteve também a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua e a vereadora do Bloco na Câmara de Lisboa, Beatriz Gomes Dias, que se foi inteirar da situação.
Para esta vereadora, os Artistas Unidos são uma “companhia essencial na cidade de Lisboa, que faz um serviço público extraordinário de cultura e a Câmara tem responsabilidade de garantir que a cidade tem oferta cultural e que não se resume a espaços privatizados”.
Para que a cultura seja acessível, as companhias têm de ter espaço para as suas produções, afirmou, sublinhando que apesar do compromisso que a autarquia de Lisboa assumiu com a companhia após a morte de Jorge Silva Melo, de lhes disponibilizar os espaço “A Capital”, este “não foi cumprido”.
“Passados dois anos, esse compromisso, que foi fundamental para que pudessem ter o financiamento da Direção-Geral das Artes, não foi cumprido”, disse, sublinhando que o executivo camarário tem “uma responsabilidade e um compromisso a concretizar”.
O Teatro da Politécnica, por que era mais conhecido, tomou o nome de Teatro Paulo Claro, homenagem a um dos fundadores dos Artistas Unidos, ator que fez desde "Um Rapaz de Lisboa" a "Primeiro Amor" de Samuel Beckett na companhia, e que morreu numa madrugada maio de 2001, num acidente de viação, quando ensaiava "Na Estrada", de Anton Tchékhov.
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