"Yuri Grigorovich, uma das principais figuras do mundo do bailado na segunda metade do século XX, morreu", anunciou o Teatro Bolshoi, em comunicado, na rede social Telegram.

Nascido em 1927, em Leninegrado, atual São Petersburgo, Yuri Nikolaevich Grigorovich dirigiu o Teatro Bolshoi durante três décadas, desde 1964, em plena era soviética, até 1995, após a dissolução da URSS.

O comunicado conjunto da direção e da equipa do Teatro Bolshoi, hoje divulgado, recorda que o coreógrafo é responsável pela criação de "várias gerações de artistas notáveis", garantindo que a sua memória "será sempre valorizada" e o "seu inestimável legado preservado".

Yuri Grigorovich formou-se na antiga Escola de Dança de Leninegrado, onde estudou com Alexander Pushkin. Aos 19 anos, em 1946, entrou para o Teatro Kirov (atual Teatro Mariinsky), na sua cidade natal, onde foi bailarino principal durante 18 anos.

A coreografia surgiu pouco depois, na sua carreira. Destacou-se desde logo em 1957, com a criação do bailado "Stone Flower" ("A Flor de Pedra"), com música de Prokofiev, inspirado em contos populares dos Urais. Este seu primeiro grande êxito foi confirmado de seguida com a criação de "Legend of Love" ("A Lenda do Amor"), sobre música de Arif Melikov.

Em 1964, aos 37 anos, Grigorovich foi nomeado diretor do Teatro Bolshoi, em Moscovo, onde se manteve durante 31 anos. Durante esse período, renovou os quadros da instituição, o seu corpo de dança, formou e revelou bailarinos como Natalia Bessmertnova, com quem se casou, Ekaterina Maximova e Vladimir Vassiliev. Foi também um dinamizador das digressões internacionais da companhia.

Ao longo da sua carreira, revisitou clássicos do bailado russo como "O Quebra-Nozes" e "O Lago dos Cisnes", a partir de Tchaikovsky, fez "requintadas reformulações" das coreografias de Marius Petipa para "La Bayadere" e também para "Giselle", sobre Adolph Adam, e criou peças que deram origem a novos clássicos, como "Spartacus", sobre Khachaturian, "Ivan, o Terrível", a partir de Prokofiev, e "A Idade de Ouro", sobre a música de Shostakovitch.

Como coreógrafo, a crítica internacional considerou-o responsável pelo "estilo exultante" com que o Bolshoi se afirmou nas décadas de 1960-80: "A produção não é em grande número, para os padrões ocidentais, mas cada obra reforçou a força exuberante do Bolshoi", lia-se no jornal The Independent, em dezembro de 1992, quando a companhia do teatro de Moscovo se apresentou no Royal Albert Hall, em Londres, para uma temporada de cinco semanas.

Após a saída do Bolshoi, em 1995, Grigorovich criou a sua própria companhia em Krasnodar, no Sul da Rússia. Em 2008, regressou ao teatro de Moscovo, assumindo o cargo de coreógrafo da companhia de bailado.

Em 2001, Grigorovich apresentou no Coliseu do Porto, no âmbito da Capital Europeia da Cultura, a sua visão de "O Lago dos Cisnes".

Hoje, o Teatro Mariinsky de São Petersburgo reagiu à morte de Grigorovich, num elogio ao seu legado artístico, afirmando que, "com a morte do lendário coreógrafo, uma era inteira desaparece".

Yuri Grigorovich "atribuiu um lugar importante às atuações masculinas na dança" com a criação de papéis para bailarinos, numa expressão clássica dominada por papéis femininos, lembrou por sua vez Boris Akimov, 78 anos, antigo bailarino principal do Teatro Bolshoi, citado pela agência France Presse (AFP).

Akimov, que se afirma orgulhoso por ter sido aluno de Grigorovich, recordou ainda as críticas de autoritarismo feitas ao corógrafo, justificando-as: "Para liderar um grupo é preciso saber ser duro".

Yuri Grigorovich era sobrinho de Georges Rosay, um dos principais bailarinos do Teatro Mariinsky de São Petersburgo, na antiga capital imperial russa, e dos Ballets Russes de Serge Diaghilev.