O nome do álbum, a ser editado na segunda-feira, “Cantigas de Maio”, “pode ser interpretado como alguma coisa que vem depois de Abril”, explicou Bernardo Moreira à Lusa.
“Há muitas canções que ficaram coladas a uma fase de transição, que terão sempre uma carga política muito forte. A nossa ideia foi fugir um bocado disso e mostrar que canções com a força suficiente para se mostrarem eternas não têm que ser vinculadas a nada, existem tão só porque são fantásticas e têm essa força”, referiu.
Bernardo Moreira começou o seu percurso pelo jazz “mais ortodoxo”, mas à medida que foi “crescendo musicalmente” foi-se sentindo “cada vez mais longe desse universo”.
“E sinto que me aproximei um bocadinho de todo um universo que tem que ver com música popular portuguesa”, partilhou.
O percurso do contrabaixista acabou por ser feito “na fronteira ténue entre o jazz e a música portuguesa” e “Cantigas de Maio” é mais uma etapa nesse caminho, na qual está acompanhado por três músicos “fora de série”.
“É um disco que considero estar muito longe do jazz, mas quando vou chamar o [guitarrista] André Santos há sempre uma componente de um músico de jazz”, disse.
Neste trabalho, Bernardo Moreira conta também com o vocalista João Neves, “cujo percurso foi sempre na área do jazz e da música improvisada, mas que as pessoas conhecem do [programa] The Voice”, e com o pianista Ricardo J. Dias, que integrou a Brigada Victor Jara.
Bernardo Moreira descobriu, “de uma forma mais profunda”, os quatro autores celebrados em “Cantigas de Maio” (Fausto Bordalo Dias, José Mário Branco, Sérgio Godinho e José Afonso) já “numa idade adulta e madura”.
“Nestes últimos 20 anos, com as minhas incursões, até no fado, nas minhas experiências, com o próprio Fausto com quem tive a sorte de tocar uma vez em 1998, foram experiências que me marcaram e que me abriram uma espécie de horizonte musical que me interessou particularmente. Comecei por abordar a música de Carlos Paredes e tudo isto tem um bocado que ver com a mesma coisa”, recordou.
Os quatro autores escolhidos, “numa fase da vida, tiveram um percurso na música de intervenção”, mas para Bernardo Moreira, “o que os define como autores eternos é que se conseguiram libertar, gradualmente, desse cunho”.
“Penso no Fausto como no Chico Buarque, são autores de dimensão absolutamente universal e como tal eternos. A ideia do disco é mostrar um bocadinho que essas canções sobreviverão sempre a todas as fases e mais algumas que o país possa atravessar”, disse.
O álbum é composto por oito temas: três de Fausto (“Lembra-me um sonho lindo”, “O que a vida me deu” e “Porque me olhas assim”), um de José Mário Branco (“As contas de Deus”), um de Sérgio Godinho (“Um tempo que passou”) e três de José Afonso (“Tenho barcos tenho remos”, “O meu menino é de oiro” e “A morte saiu à rua”).
Ao vivo, o repertório é mais vasto.
“Achei que no disco fazia sentido dar este aspeto mais conciso e achei que eles os quatro mereciam este primeiro disco, mas ao vivo juntamos temas de outros autores, como Vitorino. E depois será um processo constante de evolução, também não pomos de lado haver música original ou de autores atuais. Não fechamos portas a nada”, disse Bernardo Moreira.
O concerto de apresentação de “Cantigas de Maio” está marcado para segunda-feira, no Cineteatro Louletano, em Loulé.
No dia 20 de maio, o álbum é apresentado no Auditório de Espinho, com a Orquestra Jazz de Espinho.
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