O evento, inédito, atraiu dezenas de portugueses e franceses à Maison de la Vie Associative et Citoyenne do 14.º bairro para celebrar o aniversário da elevação destas duas canções tradicionais a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
"O fado e o cante alentejano estão inscritos no Património Imaterial da UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura] e eu acho isso muito importante na nossa cultura. Surgiu, então, a vontade nos juntarmos para fazer uma festa e uma homenagem à cultura portuguesa", disse Valérie do Carmo, fundadora da Academie de Fado em Paris, em declarações à agência Lusa.
A Academie de Fado foi fundada em 2014 e dá cursos de guitarra e viola de fado, e canto para iniciantes, promovendo aulas especiais com fadistas oriundos de Portugal.
Mas o interesse para cantar e tocar fado não é exclusivo de portugueses ou lusodescendentes, mas uma forma de aproximar os franceses da cultura portuguesa.
"Temos um aluno que chegou à Academie de Fado porque se apaixonou pelo fado em Lisboa, mas não sabia uma palavra de português. Aí, a aprendizagem da língua veio com a aprendizagem do fado”, declarou Valérie do Carmo, acrescentando: “Temos uma aluna francesa de guitarra portuguesa que, como se interessava pelas letras do fado, começou a ter aulas de português no instituto Camões".
No grupo Cantadores de Paris, criado em 2016, a maior parte dos intérpretes são estrangeiros.
"O meu marido é português, não do Alentejo, mas o cante não me era estranho. Nunca serei solista, mas cantar em português é uma felicidade e também é difícil, é uma música tão rica", disse Marie Ondine, francesa, que integra o grupo há poucos meses.
Carlos Balbino, fundador do grupo, continua sempre à procura de novos membros para reforçar as atuações.
"O grupo tem agora 12 pessoas, mas queremos sempre dar oportunidade a novas pessoas de experimentarem o cante. Temos alguns membros que estão connosco, mas que, assumidamente, nunca querem fazer concertos. Gostam do ambiente e da música, mas não querem subir ao palco", explicou Carlos Balbino.
A aparição de uma viola campaniça, trazida por Carlos Balbino e que acompanha tradicionalmente o cante, suscitou o interesse do público.
Nessa altura, Domingos Trindade, de Serpa e que viveu 40 anos em França, interveio, explicando o instrumento e emocionou-se.
"Quando vos oiço aqui a cantar a canção que o meu pai cantava, faz-me sentir muita emoção", declarou Domingos Trindade.
Os Cantadores de Paris estiveram em setembro em Portugal, para gravar o álbum "Alentejo ensemble", que está agora em pós-produção, e preparam-se para aumentar o número de cantadores com um segundo grupo apoiado pela Universidade de Paris Nanterre.
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