"Patria y Vida" ("Pátria e Vida"), que soma quase dois milhões de visualizações no Youtube em apenas uma semana, é considerada uma provocação pelo governo socialista. Granma, o principal jornal do país frisou que se tratava de "interferência política grosseira" na soberania nacional.
O tema desencadeou uma resposta do presidente, Miguel Díaz-Canel, e reações de quase toda a classe política, jornais e noticiários oficiais da ilha.
A canção também divide as redes sociais, onde muitos partilharam a versão "Pátria e Vida" enquanto outros mantiveram o seu apego à histórica "Pátria ou Morte".
Gravado em Havana e Miami, o vídeo conta com a participação a dupla Gente de Zona, dos cantores Descemer Bueno e Yotuel Romero - do grupo Orishas -, e dos rappers cubanos Maykel Osorbo e El Funky.
Com refrães de crítica contra o governo, a música proclama que "o povo se cansou de continuar a aguentar" e que espera "um novo amanhecer".
O tema desvia-se do histórico slogan da revolução cubana, "Pátria ou Morte", marcado por Fidel Castro em 1960.
O vídeo também alude a ícones nacionais como José Martí e ao mais recente e dissidente Movimento San Isidro, com imagens da manifestação com cerca de 300 artistas independentes, em novembro de 2020, em Havana.
Pela quarta vez desde que o vídeo estreou, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, reagiu no Twitter apelando a outros artistas cubanos como um contra-ataque.
"A sua canção provocadora não me assusta, nem me preocupa; sei que enquanto o sol forte da dignidade raiar, aqui ninguém se rende, Socialismo, Pátria ou Morte", diz uma estrofe de Tomasa Quial, uma popular poeta elogiada pelo presidente.
Dias antes, o presidente mencionou outro gigante do acervo cultural cubano, Silvio Rodríguez. "Assim se canta à Pátria", sentenciou o presidente.
A relação entre os criadores e a revolução passou por vários momentos complicados na sua história e nos últimos meses parece ter entrado em outra zona de turbulências.
Segundo María Isabel Alfonso, especialista em cultura cubana do St.Joseph's College de Nova Iorque, a avassaladora reação do Estado "é uma confirmação de que até agora o governo cubano não foi capaz de adoptar uma posição de tolerância sobre as manifestações artísticas que criticam as falhas do modelo atual".
A canção surge em Cuba num momento em que as vozes da sociedade civil aumentaram nos últimos meses devido, em parte, à recente chegada da internet à ilha, popularizada apenas em 2018.
"Acabou", cantam os rappers. "Depois de 60 anos, bloquearam o dominó", concluem, usando o emblema do jogo de mesa que é muito popular entre os cubanos.
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