O fadista, que falou à agência Lusa nos Açores, onde tocou este fim de semana adiantou, sobre “Aqui Está-se Sossegado”, o novo projeto em que canta o fado acompanhado pelo pianista Mário Laginha, que esta etapa representa um regresso às origens.
“O fado, quando começou, era tocado ao piano”, explicou.
E prosseguiu: "Só mais tarde se tornaria [ao fado] mais fácil tocá-lo" com "a guitarra portuguesa, a viola… primeiro, a guitarra portuguesa, depois, passados muitos anos, a viola e depois o baixo e o contrabaixo".
Sobre o projeto com o pianista, esclareceu que a ideia não passa por “fazer uma mistura de fado com jazz".
“O Mário tem essa particularidade de conseguir entrar num estilo musical e dar-lhe uma perspetiva bastante boa, mas verdadeira e autêntica”, afirmou.
Esta não é a primeira vez que os dois músicos se juntam em palco e o fadista admitiu a possibilidade de virem a gravar alguns dos temas construídos para este projeto, mas só “passado algum tempo”, depois de terem “rodado muito as coisas e tocado muito”.
“Nós vamos correr alguns riscos de tocarmos muitas músicas pela primeira vez e isso é engraçado, esse lado, é o inverso de tudo o que se faz. Também faz sentido”, afirmou o artista.
O cantor apresentou, no sábado, no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, alguns dos temas mais marcantes da sua carreira, passando também pelo álbum mais recente, “Camané canta Marceneiro”, distinguido com o Prémio Manuel Simões para Melhor Disco de Fado.
No disco de homenagem a Alfredo Marceneiro, Camané celebra também os seus poetas: “Havia um certo preconceito, que tinha a ver com uma certa ignorância” em relação aos poetas populares.
“Fiquei com uma ideia que um dia iria gravar estas letras, estes poemas destes poetas populares: o Silva Tavares, o Linhares Barbosa, o Carlos Conde, o Henrique Rego, que eram poetas que eu acho que estão muito para além de serem simples poetas populares, são muito mais do que isso”, disse.
Camané começou “a ouvir o fado, baixinho, quando tinha nove ou dez anos”, porque “não queria que soubessem que estava a ouvir fado”, um hábito que mantém, porque gosta de o ouvir “sozinho, muito concentrado”.
“O fado que eu aprendi é aquele que eu aprendi com os antigos, e é esse que eu tento transmitir, que nunca é velho, é uma coisa antiga que há sempre para o futuro”, declarou à Lusa.
Sobre a nova geração de fadistas, diz ter “um orgulho enorme” em “sentir que há este interesse por esta música”, mas admite que há “pessoas que realmente vêm para o fado para terem sucesso, como está na moda, é um caminho fácil, mas depois não têm essa autenticidade”.
Ainda assim, garante que “aquilo que é verdade, aquilo que é autêntico, fica, porque o fado é uma coisa para a vida”.
Para o futuro próximo, Camané não antevê a gravação de nenhum álbum: “Agora, não sei e nunca planeio, porque, para já, não faço álbuns todos os anos. Demora imenso tempo...".
Por agora, com Mário Laginha, vai correr os teatros e as salas em Portugal com “Aqui Está-se Sossegado”, atuando, a 26 de janeiro, na Casa da Música, no Porto, e a 9 de fevereiro em Águeda.
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