A associação criada após a morte de José Afonso (1929-1987) para divulgar a obra do autor considera a iniciativa da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) de formalizar uma proposta para a trasladação dos restos mortais do cantor para o Panteão Nacional “uma atitude pouco avisada e reveladora de algum desconhecimento sobre o caráter e a postura de José Afonso que sempre recusou quaisquer honrarias, condecorações ou prebendas”.

Num comunicado assinado pelo presidente da AJA, Francisco Fanhais – que já hoje, em declarações à Lusa, a título pessoal, discordara da intenção da SPA –, a associação sublinha ainda que a melhor forma de “honrar e salvaguardar a memória de José Afonso” é “editar, divulgar e preservar a sua obra – em grande parte indisponível – pois só deste modo a gente deste tempo e as gerações vindouras poderão ter acesso a um património cultural e cívico inestimável”.

No comunicado, a AJA lembra ainda que qualquer decisão de trasladação do corpo do cantor “estará sempre cometida à família de José Afonso” e congratula-se por esta ter rejeitado liminarmente a proposta da SPA.

A AJA reagia assim à intenção da SPA de apresentar uma proposta para a trasladação do criador de “Grândola, Vila Morena” para o Panteão Nacional, em Lisboa, de acordo com um comunicado divulgado na terça-feira pela cooperativa de autores.

Na quarta-feira, a viúva de José Afonso mostrara-se “surpresa” com a proposta da SPA, uma vez que ninguém da família fora auscultado nem informado sobre a intenção do organismo, sublinhando ainda que José Afonso se encontra sepultado em campa rasa, no cemitério de Nossa Senhora da Piedade, em Setúbal, conforme o próprio solicitara em vida.

Na noite de quarta-feira, em comunicado, a família rejeitou a intenção da SPA apesar de lhe reconhecer mérito.

No documento divulgado hoje, a AJA lembra que José Afonso viveu a maior parte da vida em Setúbal, por onde andou a “conspirar e a criar parte importante da sua obra”.

“Por ali se deu à gente que o acolhia, ali deixou sinais de que era ali que queria ficar”, lembra a AJA, sublinhando que “ali está nas mãos do povo, da terra que ajudou a frutificar, ali tem sempre a porta aberta a quem lhe queira dar um abraço de saudade”.

José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu em Aveiro, a 2 de agosto de 1929, e morreu no Hospital de S. Bernardo, em Setúbal, a 23 de fevereiro de 1987, vítima de esclerose lateral amiotrófica (ELA).