“Anaconda” é um livro que reúne 19 contos, escritos e publicados de forma dispersa pelo autor em várias revistas, entre 1906 e 1919, e que em Portugal teve apenas uma edição, em 2005, também pela Cavalo de Ferro, chancela do grupo editorial 2020.

“Cada conto de ‘Anaconda’ é um labirinto alucinante, no qual o homem se debate contra a morte, e onde o próprio leitor fica prisioneiro do pavor, da surpresa e do humor”, descreve a editora.

Contos escritos na linha de Edgar Allan Poe e de Guy Maupassant, que envolvem o leitor num “universo fechado, obsessivo e delirante”, onde o perigo da selva tropical - repleta de répteis e de animais exóticos -, as febres e o calor asfixiante se unem aos delírios das sombras e dos pesadelos.

Geralmente nos seus contos, Quiroga trata de acontecimentos fantásticos e macabros, de temas relacionados com a selva, sobretudo da região de Misiones, na Argentina, onde o escritor passou parte da sua vida.

Da sua obra destaca-se ainda o livro “Contos de Amor, Loucura e Morte”, publicado originalmente em 1917, e editado em Portugal também pela Cavalo de Ferro.

O primeiro conto de “Anaconda”, que dá nome ao livro, alcançou enorme popularidade quando foi publicado pela primeira vez.

O sucesso foi tal, que a ele se ficou a dever, em boa parte, a aclamação da crítica e o êxito do livro, e levou o autor a escrever, anos mais tarde, “O regresso de Anaconda”.

A atual seleção e organização de contos segue a primeira edição de “Anaconda”, publicada em 1921, em Buenos Aires, e não as subsequentes, nas quais o autor optou por reduzir a 10 o número de contos, todos anteriores a 1916, com a intenção de dar maior unidade ao volume, privilegiando os contos pertencentes ao núcleo temático da selva.

Esta justificação, apresentada pelo próprio autor na “edição definitiva” do livro, de 1937, exclui razões de insatisfação quanto à qualidade dos contos ou de economia editorial.

Mais recentemente, a maioria dos editores de “Anaconda” começou a ignorar o “texto de referencia usado” e passou a incluir os “contos suprimidos” pelo autor, opção seguida também pela Cavalo de Ferro, que não só fez uma “nova e atenta revisão”, em relação à edição de 2005, como alterou a disposição dos contos, fazendo-a coincidir com a primeira edição original da obra, como é explicado na nota de editor à edição portuguesa.

“A nossa tradução é feita a partir do texto fixado pela mais recente edição crítica da obra de Horácio Quiroga”, acrescenta a nota.

Horácio Quiroga é considerado um dos grandes fundadores do conto moderno e um dos autores mais importantes para a renovação da literatura hispano-americana do século.

Dele, disse o escritor chileno Luís Sepúlveda, ter sido “o primeiro a desbravar a selva literária e a deixar caminhos” que ainda hoje todos os escritores usam.

Nascido em 1878, na cidade uruguaia Salto, Horácio Quiroga viria a suicidar-se aos 59 anos, na cidade argentina de Buenos Aires, após ter-lhe sido diagnosticado cancro.

A sua vida foi marcada pela falta de meios económicos, casamentos turbulentos, pela morte do pai, quando ele tinha apenas quatro anos, por suicídios - do padrasto e da mulher – e por mortes acidentais, incluindo a do seu melhor amigo, com uma bala disparada por Quiroga, sem intenção.

Experimentou, como muitos dos seus contemporâneos, o haxixe, o clorofórmio e o absinto, acabando por se matar com cianeto.

A existência trágica do autor está patente na sua obra, “como se viver e escrever fossem sinónimos de andar sempre na companhia da morte”, descreve a editora.