O encenador João Garcia Miguel escolheu pôr esta peça em cena como um apelo “contra o isolamento que aumenta no mundo”, e porque o texto de Federico García Lorca serve também de “libelo”, para “resistir”, como disse à agência Lusa.
Nos tempos que correm, “regressam as 'Bernardas Albas', crescem à luz cruel dos nossos dias, como monstros que despedaçam vidas”, afirmou.
"São a cada dia mais coercivas", "propagam discursos onde subentendem mecanismos de repressão e censura, como se defendessem liberdades". "As oportunidades não são iguais para todos", nos tempos que correm, "e a diminuição da liberdade do indivíduo é uma atividade diária, uma sucessão de acontecimentos que não se conseguem repudiar e que nos acometem e acantonam em 'existências prisão'", diz João Garcia Miguel na apresentação da peça.
Para o diretor do Teatro Ibérico e encenador, a peça de Lorca é uma “excelente forma” de abordar o enclausuramento que o ser humano vive na atualidade e a falta de liberdade, tal como na peça de Lorca, referiu.
"A peça de Federico García Lorca e a personagem Bernarda Alba ilustram essa dificuldade de conseguirmos equilibrar a luta que vivemos diariamente das tensões latentes entre o lado mais animal e o lado mais social" e civilizado do ser humano, disse o encenador.
Por isso, destacou João Garcia Miguel, a peça de Federico Garcia Lorca permite abordar a questão da opressão.
Se na peça original é a morte do pai que desencadeia a clausura e a opressão das mulheres, no texto trabalhado por João Garcia Miguel para palco, pairam os poderes autoritários existentes e disfarçados de democracia, que acabam por oprimir o presente e o futuro, acrescentou à Lusa.
“A versão que vamos fazer aqui tem a ver com a minha maneira de ver e viver o momento em que estamos, a ordem social, a própria situação do teatro português e de tudo [o que atualmente enfrentamos]”, frisou.
A peça de Federico García Lorca, a última escrita pelo autor antes de ser fuzilado pelas forças falangistas durante a Guerra Civil Espanhola, é um drama em três atos que decorre na casa fechada de Bernarda Alba, mãe de cinco filhas - Angustias, Madalena, Amélia, Martírio e Adela -, num pequeno povoado do interior de Espanha.
A abordagem de Garcia Miguel conta com o ator irlandês Sean O'Callaghan na personagem que corresponderá a Bernarda Alba, enquanto a brasileira Anette Naiman interpreta as irmãs Angústias e Martírio e a sua conterrânea Paula Liberati interpreta Adela, a filha mais nova. Duarte Melo interpreta La Poncia, uma das velhas criadas da casa, que tudo dela conhece.
Os figurinos são de Rute Osório de Castro.
Em junho de 2019, "A Casa de Bernarda Alba" deverá também ser levada à cena, no Brasil.
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