Richard Gadd, criador de "Baby Reindeer", voltou a pedir que os espectadores não procurem as pessoas "da vida real" que inspiraram a série da Netflix. Em entrevista ao The Hollywood Reporter, antes da entrevista da alegada stalker a Piers Morgan, o humorista frisou que criou "um reino fictício".

"O meu nome [na série] é Donny Dunn. Existe numa espécie de reino ficcional, mesmo que seja baseado na verdade, existe num reino fictício. Vamos aproveitar o mundo que eu criei. Se quisesse que as pessoas da vida real fossem encontradas, teria feito um documentário", frisou o comediante britânico, citado pelo The Guardian.

Durante o programa "Piers Morgan Uncensored", transmitido na passada quinta-feira à noite no YouTube, a escocesa Fiona Harvey, a mulher que inspirou a perseguidora de "Baby Reindeer" e que se apresenta como uma advogada, confirmou que a série se baseia nela, mas nega ter amado, perseguido e agredido sexualmente o humorista, atacado a sua antiga namorada ou contactado os seus pais.

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Apesar do sucesso global, Harvey diz que evitou ver "Baby Reindeer", mas descreveu à mesma como um 'obsceno' e 'difamatório' trabalho de ficção e que se viu “forçada” a contar a sua versão da história depois de receber ameaças de morte dos 'detetives da Internet' que descobriram a sua identidade.

Acusando-o e à Netflix de mentirem, negou repetidamente ter sido presa ou perseguido Gadd durante anos com 41 mil emails, 350 horas de mensagens no 'voicemail', 744 'tweets', 48 mensagens no Facebook e 106 cartas, garantindo estar preparada pela ir a tribunal defender-se de uma trabalho que descreve como “uma obra de ficção, uma obra de hipérbole”.

Evasiva em várias respostas e vaga nos pormenores apesar de dizer que tem uma 'memória fotográfica', admitiu ter quatro telemóveis e seis endereços de email, mas diz que provavelmente mandou ao humorista 'menos de dez emails', 'uma carta' e talvez 'cerca de 18 tweets'.

“Há dois factos verdadeiros naquele [programa]: o nome dele é Richard Gadd e trabalha como barman em Hawley Arms”, disse.

Questionada sobre o que gostaria de dizer a Gadd, respondeu: 'Por favor, deixa-me em paz, arranja uma vida, um emprego a sério, estou horrorizada com o que fizeste'.

Já em entrevista à revista Variety, o humorista confessou que foi "difícil" recordar tudo o que viveu. "Foi difícil, não posso negar. Quer dizer, quem de consciência sã quer revisitar a pior coisa que já lhe aconteceu? O pior período da sua vida? Claro, isso afeta-te e deixa uma marca em ti. Mas, ao mesmo tempo, às vezes sinto que revisitar a dor e reviver as coisas pode levar a uma melhor compreensão", frisou o britânico.

A história começa quando comediante e barman Donny oferece uma bebida a uma mulher solitária em um bar de Camden. "Donny, um comediante em dificuldades que trabalha num bar, conhece uma mulher solitária que diz ser advogada. Quando lhe oferece um chá, ela fica obcecada por ele", resume a Netflix.

"Emocionalmente é tudo 100% verdade, se isto faz sentido", explicou Richard Gadd à revista, acrescentando que tudo foi baseado em "coisas que lhe aconteceram". "Mas é claro que não se pode contar [na série] a verdade exata, por razões legais e artísticas", contou.

"Não podes simplesmente copiar a vida e o nome de outra pessoa e colocar na televisão. E, obviamente, estávamos cientes de que alguns personagens são pessoas vulneráveis e não queres tornar a vida deles mais difícil. Então, tens que mudar as coisas para te protegeres e protegeres as outras pessoas", explicou.