
Se "Andor" — que regressa a Portugal na quarta-feira para a sua segunda e última temporada — foi recebida como uma das melhores séries "Star Wars", isso deve-se em grande parte à abordagem mais crua e adulta adotada pelo seu criador, Tony Gilroy.
Essa perspetiva — muito, muito distante do tom familiar frequentemente encontrado no universo "Star Wars" comandado pelo império Disney — não deve surpreender quem assistiu ao thriller de ação "Identidade Desconhecida" (2002), o primeiro da saga Jason Bourne, escrito por Gilroy.
A sua génese já era evidente "Rogue One: Uma História de Star Wars" (2016), coescrito por Gilroy — e que serve como clímax para "Andor", que narra a rebelião que levou aos eventos desse filme.
"Tudo é carregado de emoção" porque "estamos a aproximar-nos de 'Rogue One'", disse à agência France-Presse (AFP) Diego Luna, o ator que interpreta o protagonista Cassian Andor.

Para a Disney, o sucesso de "Andor" destaca-se como uma nova esperança para uma saga que acumulou sucessos e fracassos com o público nos últimos anos.
É por isso que a Disney aposta de forma tão forte na história de 12 episódios, numa produção que custou uns impressionantes 645 milhões de dólares (567,16 milhões de euros, à cotação do dia), segundo a revista Forbes.
Enquanto "Rogue One" era sobre uma missão suicida rebelde para roubar os planos da Estrela da Morte, com "personagens que sacrificam tudo por uma causa", "Andor" é sobre como uma dessas personagens "chega lá", disse Luna.
Ao contrário de uma jornada típica de herói, a série explora os motivos e os lados sombrios de ambos os lados: os rebeldes e o Império. A série dedica tempo a figuras como um agente da Aliança Rebelde interpretado pelo ator sueco Stellan Skarsgård.

Gilroy, falando à AFP com Luna durante uma visita a Paris, disse que o plano original era de cinco temporadas de "Andor", mas percebeu que "não havia uma maneira física de fazê-lo", dado o "volume de trabalho" necessário.
O resultado foram duas temporadas, mas com episódios "mais intensos, mais complexos em todos os sentidos possíveis", disse Luna.
Com a primeira temporada terminando no final de 2022 com uma impressionante classificação de 96% no site de agregação de críticos Rotten Tomatoes, a segunda tem destaque na plataforma de streaming Disney+.
Esta temporada chega aos ecrãs a partir de terça-feira nos EUA, ou a partir de quarta-feira, em Portugal, França, Alemanha, Itália e outros territórios.
Leituras revolucionárias

"Andor" não é a única série de sucesso da série "Star Wars".
"The Mandalorian", que a precedeu, empolgou o público nas duas primeiras temporadas, antes de o interesse diminuir na terceira. Essa história chegará aos cinemas, com um filme previsto para estrear em maio do ano que vem.
Mas "Andor" impressionou fãs e críticos com a sua vibração mais sombria, temas políticos mais relevantes e tom mais realista.
Gilroy disse que a sua abordagem à série foi influenciada por uma obsessão de décadas por leitura sobre revoltas — "todas estas coisas malucas que aprendi sobre... a Revolução Russa e... a Revolução Francesa, [o norte-americano] Thomas Paine e [inglês] Oliver Cromwell e a Revolução Haitiana e a Revolução Romana e [o mexicano Emiliano] Zapata".
"Quer dizer, está tudo lá", disse.

A segunda temporada foca-se no uso da propaganda, analisando o destino trágico de um planeta chamado Ghorman, para o qual Gilroy e a sua equipa embarcaram numa séria construção de mundo, imaginando a sua economia, idioma, cultura e trajes.
Parte da inspiração veio de uma série de TV francesa sobre uma aldeia sob ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial, "Un village français", do canal France 3, com sete temporadas e 72 episódios entre 2009 e 2017, exibida na RTP2 como "Uma Aldeia Francesa", mas atualmente não disponível em streaming para Portugal.
"Adorava aquela série... Tinha alguns daqueles atores na minha cabeça" enquanto escrevia sobre os habitantes de Ghorman, disse.

Mesmo que algumas pessoas possam ver ecos da atual Terra em aspetos de "Andor", Gilroy disse que o horizonte de um argumentista, estendendo-se por anos, não lhe permite antecipar os eventos atuais.
Mas, disse, "a triste verdade é que a história é... repetitiva", acrescentando: "De forma comum, sentimos, narcisicamente, que vivemos em tempos únicos."
A tecnologia pode mudar, a retórica pode alterar-se, "mas a dinâmica de opressão e resistência é uma Roda de Catarina. Simplesmente continua. Acho que é intemporal, infelizmente."
De forma invulgar, a série com 12 episódios foi dividida em quatro "capítulos" de três episódios: após o primeiro a 23 de abril, os restantes são lançados ao ritmo de um por semana, por cá às quartas-feiras: 30 de abril, 7 e 14 de maio.
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