Não são portugueses, mas foi cá que se instalaram há já alguns anos. E embora passem cada vez mais por palcos internacionais, os Youthless têm voltado sempre "para apanhar umas ondas". Falámos com eles numa altura em que estão prestes a iniciar uma nova viagem, agora para o Canadá, rumo à 30ª edição da Slacker Canadian Music Week, que decorre de 21 a 25 de março em Toronto.

Este evento, considerado o maior ponto de encontro de profissionais da música do Canadá, já justificaria atravessar o Atlântico - até porque "o Slash está lá. Só para conhecer o Slash vale a pena pagar o bilhete de avião", confessa Alex -, mas é apenas o princípio de uma temporada movimentada. "Vamos para o Canadá, depois Nova Iorque - ficamos pelos EUA dois meses a tocar na costa leste -, Reino Unido e, no verão, Portugal", conta o vocalista e baterista.

"Normalmente, da primeira vez vais tocar a um país estrangeiro tens de fazer um investimento porque as pessoas não te conhecem. Por exemplo, das primeiras vezes que fomos a Inglaterra tivemos de pagar. Mas depois, à segunda ou terceira vez, vais arranjando concertos que te pagam - se tocares lá duas ou três semanas. Para nós, não é tão mau não termos financiamento para irmos ao Canadá porque vamos estar dois meses nos EUA. Mas ir lá só para tocar um concerto que não é pago é um bocado complicado", salienta.

Estas passagens pelo estrangeiro já fazem parte da rotina dos Youthless, mesmo que a banda ainda tenha uma vida relativamente curta. Colegas nos tempos dos Three and a Quarter, Alex e Sebastiano trocaram os temperos reggae ou dub por "influências rock, metal, dance ou até aquele rock antigo, mais biker rock", mistura que deveremos ouvir no disco de estreia dos Youthless - o sucessor do EP "Telemachy", editado em 2009, ano da origem do projeto.

Uma casa portuguesa com vista para o mundo

Não é por passar parte do ano lá fora que Alex deixa de se considerar "muito português", mas tem valido a pena abdicar do bacalhau (que come "duas ou três vezes por semana", garante-nos) para tentar a sorte noutras paragens: "Aqui, para ganhares a vida como músico profissional, tens mesmo de chegar a um ponto muito alto, ser bastante popular. Para teres reconhecimento alargado, a música tem de ser não propriamente comercial, mas acessível". Esta condição nem sempre é necessária noutros mercados, acrescenta Sebastiano: "Conheço muitas bandas em Nova Iorque que nem tocam fora - só com o público que têm lá, já se aguentam. Mas é diferente, porque lá também há milhares de bandas e acaba por ser difícil dar nas vistas".

Além de Nova Iorque, a música dos Youthless já visitou palcos britânicos (como o do festival In The City, em Manchester) ou holandeses (o do Eurosonic, em Groningen) e tem nas estradas virtuais aliadas de peso. "Muitos blogs estrangeiros vão espalhando a palavra e os vídeos. Também temos família e amigos no estrangeiro que ajudam", conta Alex. Os elogios do NME ou da BBC1 e as remisturas de Olugbenga, baixista dos Metronomy, também não terão sido de desprezar.

Será este um modelo a adotar por outros artistas nacionais? O vocalista e baterista acredita que a Slacker Canadian Music Week pode ser um bom ponto de partida: "Portugal tem bandas fantásticas que podem competir a nível mundial, mas tem de encontrar maneiras de as mandar lá para fora. Era bom que as marcas ou o governo pudessem dar algum apoio. Mas só o facto de esta iniciativa ser tão publicitada talvez ajude a que enviem mais bandas no ano que vem - acho que será mais fácil conseguir alguns apoios depois. Vamos ter de pagar os nossos custos, mas acho que é uma causa fixe... somos uma espécie de ratos de laboratório", compara.

@Gonçalo Sá