Há 35 anos, quando deram um curto concerto de estreia nos Alunos de Apolo, em Lisboa, os Xutos & Pontapés não tinham uma legião de fãs - "tínhamos amigos" - e estavam longe de saber que se tornariam numa das mais resistentes bandas do rock português.

Sem saudosismos, em dia de aniversário lançam um novo registo (disponível em streaming no music box desde dia 7) que tem a marca identitária da banda - o baixo dominante de Tim, os solos de guitarra elétrica de João Cabeleira -, com letras que "são um reflexo do que se passa atualmente".

"Às vezes perguntamos o que andamos aqui a fazer. Quando chega a altura de fazer as músicas, de escrever, de fazer aquilo que sabemos fazer, essa referência fica ultrapassada. (...) Quem ouvir o trabalho e quem conhecer os Xutos vai descobrir uma série de coisas - umas [são] referência, outras, novidades, mas permitiram que este disco fosse mais além e novo para nós", afirmou Tim.

Mais de metade do disco é, segundo o guitarrista Zé Pedro, "muito reflexo de tudo o que se está a passar atualmente". Isso ouve-se, por exemplo, em "O milagre de Fátima", no qual Tim diz "Que se cante o fado/ que se louve a saudade/ este país quer mais futebol/ que nada se passe/ a não ser a fome/ e que o país por fim/ apodreça".

Já "Ligações diretas", uma das últimas letras a ser composta, faz referência explícita ao corte de energia elétrica, em novembro, no bairro do Lagarteiro, no Porto: "Quanto mais têm mais querem de mim/ como o gasóleo tudo pode subir/ só o teu salário continua a descer/ tu não crês em ligações diretas/ olha aqui estas feridas abertas/ por onde escorreu o nosso dinheiro/ e se derreteu um futuro inteiro/ tu, morrer de fome e de frio primeiro/ aqui no bairro do Lagarteiro". "Aquela história é o resumo de uma série de acontecimentos que têm vindo a acumular-se, a caracterizar a situação atual. (...) Nós ouvimos o que se passou com eles e não gostámos", afirmaram os dois músicos.

"Puro" será apresentado ao vivo ao longo deste ano, com o primeiro concerto a acontecer a 7 de março, no Meo Arena, em Lisboa: "Vai ser brutal. Vai ser uma comemoração, mas um grande concerto, que é o que gostamos de fazer", disseram.

Apesar do aniversário os fazer olhar para o passado, Zé Pedro referiu que nenhum dos músicos é nostálgico. "Estamos sempre naquela: Hoje é que é bom e amanhã vai ser melhor. Isso é que é uma grande vantagem, estarmos há tanto tempo todos juntos a compor e a trabalhar, a tocar. E é sempre com esse espírito. Desde que se parta com esta base, as coisas vão para a frente, como está demonstrado neste disco; a maneira como encarámos os temas e como o disco soa. O objetivo de fazer melhor do que fizemos ontem", resumiu Zé Pedro.

A 13 de janeiro, próxima segunda-feira, assinalam-se os 35 anos desde que os Xutos & Pontapés Rock'n'Roll Band - foi assim que se apresentaram - atuaram na festa nos Alunos de Apolo, em Lisboa, que serviu de despedida dos Faíscas, de Pedro Ayres Magalhães.

Além da edição do álbum, como vão assinalar o aniversário? "Temos feito sempre diferente, nas festas de anos, e este ano o Tim lembrou-se: 'Porque nao ir jantar ao estrangeiro? Então escolhemos Londres como objetivo", disseram.

@Lusa