Depois da nomeação para a categoria de Melhor Grupo nos Globos de Ouro 2011e da consagração dos êxitos Linhas Cruzadas e Dança de Balcão, os Virgem Suta estiveram à conversa com o Palco Principal.

Palco Principal - Como nascem os Virgem Suta?

Nuno Figueiredo - Os Virgem Suta nasceram há muitos anos, fruto do trabalho de dois amigos - eu e o Jorge. Há 17 anos que fazemos música, que tentamos fazer canções em português, mas, até agora, nunca tínhamos encontrado um caminho, ou melhor, trilhámos, ao longo destes anos, um caminho, que passou por várias fases de tentativa-erro, por experiências com outras pessoas. No fundo, a nossa história é feita de persistência ede muita experimentação em estúdio.

Jorge Benvinda – Ainda tocámos, durante algum tempo, com o produtor Hélder Gonçalves, mas ele, na altura, estava envolvido numa série de projectos (entre os quais os Humanos) e não tinha muito tempo para nós. Ficámos, então, só os dois. Escrevemos canções, amadurecêmo-las, descobrimos muita coisa juntos.

P.P. - O vosso álbumde estreiachegou em 2009. Um ano depois, reeditaram-no por duas vezes. Porquê?

J.B. - Achámos que fazia sentido, uma vez que, na primeira edição, tínhamos deixado de fora algumas músicas que, mais tarde, acabámos por quererrepescar. É o caso do dueto com a Manuela Azevedo, dos Clã, que acabou por integrar a terceira edição do disco.

N.F. – Fomos introduzindo, nas últimas edições, músicas que não estavam, originalmente, no disco, músicas que tocávamos ao vivo, que faziam sucesso ao vivo. Fazia todo o sentido mostrá-las, porquê guardá-las em casa? Não somos assim tão egoístas...

P.P. - Como tem recebido o público o vosso trabalho?

J.B. - Tem recebido muito bem. Tem sido incrível! Todos os concertos que temos dado têm decorrido em modo festa. É essa, aliás, a nossa luta: fazer a festa com as pessoas que estão a ver-nos. Não só tocar para elas, mas envolvê-las, fazer a festa em conjunto.

P.P. - É curioso o nome da vossa digressão: "Digressão pelas capelinhas do País"...

N.F. – Esse nome surgiu há cerca de ano e meio,quando começámos a fazer uma digressão de norte a sul do país, só em duo. A ideia era percorrer os sítios mais inusitados, tocar onde ninguém esperasse ver uma banda a actuar.

J.B. – No Alentejo (não sei se acontece em mais algum ponto do país), quando dizemos que percorremos as capelinhas todas, queremos dizer que percorrermos as tascas todas a beber uns copos...

N.F. – E não podemos esquecer que a palavra Virgem remete para algo espiritual, o que confere um duplo sentido ao nome da digressão...

J.B. – Quer queiramos, quer não, existe em nós uma faceta mais taberneira, uma atitude, uma forma de estar e de conversar algo boémia etodo este conceitoestá implícito nos nossos concertos, nas nossas festas.

P.P. -Optaram por não utilizar as auto-estradas da informação para conquistar fãs. Não as acham úteis como meio de captação de novos públicos?

N.F. – Até ao lançamento do álbum, não usámos. O nosso percurso foi centrado no laboratório, no trabalho de casa, não tanto em concertos, em actuações ao vivo...

J.B. – Nunca sentimos necessidade de disponibilizar as nossas músicas na Internet e receber o feedback das pessoas. Nós gostávamos dos temas, trabalhávamos nos temas, mais nada importava.

N.F. – Acabámos por mostrar tudo já feito, sem possibilidade de alterações.

P.P. - Em Outubro vão apresentar o vosso trabalho a Toronto, à Casa do Alentejo. Aguardam com ansiedade este espectáculo?

N.F. – Estou bastante ansioso por causa do voo... (risos)

J.B. – E pelo concerto em si também! Vamos tocar e vamos fazer uma grande festa junto de uma comunidade alentejana que está longe do seu canto, que tem uma saudade incrível do Alentejo, que nos vai receber com muito carinho, com certeza. Estou mesmo desejoso de lá ir, de contactar com aquelas pessoas, de conhecê-las. Há lá muita gente que conhece os meus pais... o mundo é, de facto, muito pequenino.

P.P. - Esperam que este espectáculo abra portas à vossa internacionalização?

J.B. – Poderá abrir, de facto. Mas acho que a abertura das portas da internacionalização depende mais do trabalho que apresentas do que do agendamento de um ou dois concertos no exterior. Tem a ver com a definição de uma estratégia, com a montagem de um esquema. Não é difícil, mas também não é fácil, é trabalhoso, é duro.

P.P. - Antes de entrarem em palco, que ritual têm? Um gole de vinho e uma sandes de chouriço?

N.F. – Sim, fazemos um brindezinho... Aliás, o vinho está sempre presente em palco. Há sempre uma ou duas garaffas que vamos bebendo e partilhando com o público em determinados momentos. É um ritual que faz parte do nosso dia-a-dia: estar com amigos, recebê-los em nossa casa.

J.B. – E damos sempre um abraço...

P.P. – Como correu o concerto no festival Delta Tejo - um dos maiores dados até à data?

J.B. – Foi bastante bom. Apesar de gostarmos muito de auditórios (prefiro auditórios pela intimidade que se consegue criar e pelo facto de atrair pessoal que vai lá propositadamente para nos ver), ofestival Delta Tejo acabou por revelar-se muito simpático, na medida em que nos proporcionou uma ligação com estes «nossos irmãos» e, claro, nos permitiu conhecer o Ney Matogrosso... (risos)

N.F. – É um festival muito giro, com um conceito original, muito bem trabalhado. Estamos muito agradecidos pela oportunidade de actuar num evento como este.

Texto: Ana Cláudia Silva

Fotografia: Pedro Maia