"Mesa funciona para nós como um regresso a casa", diz-nos João Pedro Coimbra, metade do projeto que, desde 2000, tem trazido uma lufada de ar fresco à pop nacional. Nos últimos anos, contudo, o duo optou por registos a solo: o músico e compositor através do EP do heterónimo Andrew Thorn (2009), a vocalista Mónica Ferraz com o álbum "Start Stop" (2010).

O regresso à casa de partida dá-se com "Automático", sucessor de "Mesa" (2003), "Vitamina" (2005) e "Para Todo o Mal" (2008). "Sentimos necessidade de voltar a fazer um novo disco dos Mesa. Já estava na altura, passaram três anos desde o anterior", explica Mónica Ferraz, que tal como o colega nunca colocou em causa um novo álbum apesar das aventuras em nome próprio.

A combinação das suas duas sensibilidades é, de resto, a chave de um projeto também ele vincado por contrastes. "Mesa é uma explosão de muitas coisas com processos mais intimistas. Gostamos de manter essas duas facetas", aponta João Pedro Coimbra.

A familiaridade dessa parceria leva a que, ao fim de mais de dez anos de canções, "Automático" seja o disco que a dupla criou mais rapidamente. E nesse aspeto, o título não podia ser mais apropriado. "É o quarto disco, já sabemos como é que as coisas se processam e foi muito mais fácil tratar de tudo", destaca a vocalista.

Mas se desta vez o método foi outro, o ponto de partida continua o mesmo. "Mesa resulta de tudo o que ouvimos e gostamos. E isso acaba por vir ter, inconscientemente, com as composições que fazemos", sublinha o compositor que tanto pode ouvir "uma coisa com trinta ou quarenta anos como uma que saiu ontem" e inclui Lana Del Rey ou Warpaint entre as paixões recentes.

Mónica Ferraz também se confessa adepta do zapping musical: "Tenho muita coisa diferente no telemóvel. Ouço Concha Buika, depois Velvet Revolver, vai saltando... Não gosto de estar formatada só para um tipo de música, gosto de ouvir várias coisas e aprender com isso. É como a nossa música - não há uma prateleira onde colocar um disco dos Mesa".

É também dessa curiosidade descomplexada que nascem colaborações como as que "Automático" apresenta. "Teia" conta com Armando Teixeira (Balla), "Fitas" convida Filipe Palas (Smix Smox Smux). "Acho que são duas personalidades muito distintas e têm as duas igualmente a ver com o nosso imaginário musical. No caso do Armando, temos uma postura mais eletrónica, um bocado em volta dos anos 80... e depois temos uma mais dançante, mais atual, e acho que o Filipe Palas se encaixa melhor nesta", salienta João Pedro Coimbra.

O que não muda nos discos dos Mesa é a temática, habitualmente assente nas relações humanas. Não muda, mas vai conhecendo variações, sublinha o compositor: "O relacionamento humano é sempre um tema que nunca está esgotado. Podes abordá-lo de imensas formas e para nós é interessante ver como os tipos de relações nos afetam e como isso se reflete nas músicas e nas letras. São sentimentos muito simples, e às vezes esses são os mais difíceis de colocar nas canções".

Este mês, estes "sentimentos simples" em forma de canção vão passar pelos palcos do Hard Club, no Porto (dia 2); do Theatrix, em Coimbra (dia 7); ou do Teatro Villaret, em Lisboa (dia 15), ocasiões em que os Mesa se apresentarão num formato banda, com mais três músicos em palco e onze novas histórias para cantar.

Entrevista, texto e edição @Gonçalo Sá / Imagem @Eliana Silva