Tó Trips, músico há mais de vinte anos e que faz parte, atualmente, dos Dead Combo, gravou, em janeiro, "Guitarra Makaka", um disco conceptual "meio exótico", "como se fosse música original de uma ilha daquelas que não vêm no mapa". "Não se sabe bem quem por lá passou, se foram árabes, europeus, africanos".

O álbum, a editar pela Mbari, sai seis anos depois de "Guitarra 66", este influenciado pelas viagens que o músico fez, e que tinha uma marca geográfica mediterrânica.

Já o novo disco é o reflexo de um trabalho de exploração de técnicas perante o instrumento de composição, uma Resonator, uma guitarra de metal usada sobretudo nos blues e que lhe permitiu trabalhar numa afinação diferente, explicou.

"O que mais curto na música é descobrir coisas, ter uma surpresa. Trabalhei com a Adriana Sá [gravaram no álbum "Timespine", com John Klima] e experimentei um zither que estava afinado de uma maneira diferente", afirmou o músico. Transpôs isso para guitarra e esteve dois anos a trabalhar em composições.

"A maneira de tocar tem sempre um lado mais primitivo, quase religioso, espiritual, pelo menos eu vejo as coisas assim e este disco tem muitas músicas em 'loop', ritmadas, daí ter dito que são danças", explicou.

Tó Trips contou também que a imagem gráfica de um álbum tem importância para a concretização das músicas. Este disco novo inspira-se no imaginário de paisagens distantes, ilhas desconhecidas ou inexistentes, geografias de latitudes longínquas.

"Guitarra Makaka - Danças a um deus desconhecido" encerra com "Adeus Muchassa", como uma canção de despedida de quem sai dessa ilha imaginária de barco. "É o lado mais ocidental do disco".

Tó Trips, nascido em 1966, fez parte dos Amen Sacristi e Santa Maria Gasolina em Teu Ventre, foi um dos fundadores dos Lulu Blind e dos Dead Combo, no qual milita atualmente ao lado de Pedro Gonçalves.

Como guitarrista tem feito trabalhos dispersos com outros músicos, nomeadamente Tiago Gomes, no EP "Vi-os Desaparecer na Noite", em torno de "Pela estrada fora", de Jack Kerouac, ou os concertos recentes "Guitarras ao alto", com o guitarrista Filho da Mãe.

"Gosto de ver as coisas amadurecerem. É preciso ver a vida que passa por nós e nos leva a sítios que não estamos à espera. Gosto de explorar e de me deixar levar pelo acaso, aproveitar o que os acasos podem fazer por nós", resumiu.

@Lusa