A sala estava praticamente cheia, à excepção dos camarotes.No concertoesteve-se sentado e ficar de pé também não fez falta. Os britânicos Tindersticks estiveram ontem no Coliseu do Porto para um concerto muito emotivo. A banda de Stuart Staples já habituou opúblico português à melancolia e ao romantismo das suas canções, que hoje deverão ser repetidas em Lisboa.
A actuação foi, como já se previa, uma passagem pelos temas mais emblemáticos da banda britânica, apesar do último álbum, "Falling Down a Mountain", ter sido apresentado no início do ano.
No palco, muitos instrumentos para além de guitarras: um xilofone, uma caixa de gira-discos, um violino, um saxofone e um piano. Os Tindersticks apresentaram-se ontem com sete membros que abriram a actuação com "The Organist". Sem StuartStaples. Esse só vem para " Mountain", do último álbum, e o que seria da banda sem o "comandante"... Muitos aplausos para o vocalista que aquecia o tom e as cores da sala, mas "Marbles" com o som do xilofone, "Beautiful", "Sometimes It Hurts" e "SheRode Me Down", esta última uma ode a Johnny Cash, e a voz romântica de Stuart, envolvem o público num turbilhão de emoções.
O adormecimento era tal que "Peanuts", uma das "jóias" de "Falling Down a Mountain" passou um pouco despercebida. Apesar da ausência de Mary Margaret O'Hara na música (que faz dueto com o vocalista no álbum), Stuart soube dar bem conta dorecado sozinho.
Em "Raindrops" um casal de namorados abraça-se e segreda palavras ao ouvido, contaminados pela melodia especialmente longa. Staples deixou-se ele próprio embalar pela música, curiosamente a primeira que fez levantar algum público paraagradecer a emotividade do vocalista que, ainda assim, pouco interagiou com os presentes ao longo de toda a actuação.
"Before You Close" e "Marseilles Sunshine" soavam como palavras bonitas ao ouvido. Stuart sozinho em palco (as luzes incidem só sobresi), o gira-discos a marcar o compasso, e o xilofone que lhes dava todo o ar de caixinha de corda. Uma "tia" descontrolada e rendida gritou "I love you Stuart" com a sala em silêncio.
Seguiram-se "She's Gone" e "The Otherside", esta última com um instrumental muito completo quase tão surpreendente como "Piano Music", do último álbum. A tudo isto o público assistia calmo e sereno, e eis que surgiram "Tyed" e "Black Smoke", com uma sonoridade mais rock, que fizeram aparecer algumas mão no ar. Earl Harvin, o baterista, mostrou-se especialmente habilidoso em ambas.
Início e fim do concerto carregados de emoções
O extâse durou pouco. "Factory Girls", "A Night In", e "Harmony Around My Table" quebram novamente o ritmo. "A Night In", do álbum Working for The Man (2004) uma das evocações poéticas do amor fez-nos esquecer por momentos que estamos na sala do Coliseu. Houve quem se recostasse na cadeira efechasse os olhos. Mas no final muitos saudaram de pé este momento particularmente melancólico.
Aqui, Stuart aproveitou para dizer mais do que "obrigado" na primeira e única interacção com o público."É sempre um prazer voltar a este país, a um sítio e uma cidade tão agradável", afirmou.Saíram e ainda fizeram esperar a plateia aos gritos. Para mais emoções. Voltaram para um encore de mais de cerca de meia-hora.
Apesar de alguns momentos melancólicos em demasia, Stuart arrabatou corações na plateia. Com a voz trémula e anasalada, o prolongamento das sílabas das palavras enquanto canta, (que é muito próprio), a pose, os olhos fechados, e a luz torna osTindersticks ainda mais românticos, emotivos, até lamechas demais por vezes.Talvez não seja defeito... seja feitio.
E não é por acaso que os britânicos são uma presença habitual por terras lusas. Ainda em Fevereiro, a banda fez uma minidigressão em Portugal, passando por locais como Sintra, Caldas da Rainha e Estarreja. Hoje, acelebração repete-se no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Os bilhetes custam entre 20 e 40 euros.
Veja o videoclip do single de lançamento do último álbum, "Black Smoke":
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