Um ano depois, os festivaleiros voltaram a encontrar-se no Parque da Cidade do Porto. A edição de 2024 do Primavera Sound arrancou esta quinta-feira, dia 6 de junho, e foi marcado pela estreia de SZA e pelo regresso de PJ Harvey a Portugal. Amyl and the Sniffers e Mitski também garantiram um arranque cheio de energia, cor e sorrisos.
O filme do primeiro dia do festival começa pelo fim da noite, mas muitos fãs aglomeram-se junto ao palco Porto antes do pôr do sol. Tudo para ver (bem) de perto a estreia de SZA em Portugal. O concerto da norte-americana, uma das estrelas maiores do R&B atual, era um dos mais aguardados da época festivaleira de 2024 e as expectativas era elevadas - e (alerta de spoiler) ninguém saiu desiludido.
A cantora, a primeira mulher a assinar com a Top Dawg Entertainment (Kendrick Lamar, ScHoolboy Q, Isaiah Rashad), deu-se a conhecer com “Ctrl”, álbum nomeado para quatro Grammys, e, há dois anos, a artista conquistou o mundo com "SOS", que mereceu aplausos da crítica e foi considerado um dos melhores álbuns de 2022.
Com um elogiado disco e uma digressão aclamada na bagagem, as expectativas dos fãs eram muitas. Tal como em toda a digressão, o cenário contou com motivos náuticos, com SZA e os seus bailarinos a dançarem no interior de um velho submarino.
A noite arrancou com “Seek & Destroy”, do disco de 2002. Seguiu-se “Love Galore”, gravada em parceria com Travis Scott, e a euforia foi geral - foi só um aquecimento para o que seria a noite, com SZA sempre confiante, sorridente e próxima.
O tempo que a artista demorou a estrear-se em Portugal sentiu-se na emoção dos fãs e provou a força de “SOS”, que esteve nove semanas no primeiro lugar do top Billboard 200.
A viagem por “Crlr” continuou com "Broken Clocks", que abriu terreno para “Forgiveless”, “Ghost In the Machine”, e “Blind”, que carimbaram uma mudança de ritmo no concerto, antes de SZA servir “Shirt”. A cada tema, as doses de euforia eram recarregadas.
À oitava canção, chegou um dos primeiros grandes momentos da noite com “All the Stars” (colaboração com Kendrick Lamar em “Black Panther: The Album”). A multidão cantou todos os versos e fez-se ouvir. E a energia contagiante continuou com "Garden (Say It Like Dat)" e "F2F", canção que roça no country com um refrão pop-punk sobre fazer sexo por vingança.
A grande e aclamada festa de SZA no Porto continuou com "Drew Barrymore", "Low", "Supermodel / Special" e "Open Arms". Com “Nobody Gets Me” os festivaleiros voltaram a ser o coro mais do que perfeito, com as vozes a carregarem emoções fortes.
No alinhamento seguiu-se "Saturn", "Normal Girl" e "Kiss Me More" (com Doja Cat), com o Primavera Sound a transformar-se numa grande pista de dança. E depois? Mais uma série de êxitos: "Snooze", "I Hate U" e "Kill Bill" garantiram os pontos altos da noite.
No fim, SZA mergulhou em "The Weekend", "Rich Baby Daddy", de The Weeknd, "Good Days" e "20 Something", que ficou guardada para o encore.
Uma estreia triunfal da cantora, que ofereceu tudo o que os fãs esperavam. Um concerto com emoções fortes e SZA não deixou margem para dúvidas: é uma das grandes estrelas do presente e do futuro.
O reino de PJ Harvey
Já ao início da noite, PJ Harvey pisou o palco principal: se no caso de SZA foi o primeiro encontro com fãs portugueses, no caso da artista britânica foi um reencontro há muito esperado - a cantora, compositora e poetisa tinha atuado pela última vez em Portugal há oito anos, em 2016.
Para o Primavera Sound do Porto, tal como aconteceu em Barcelona, PJ Harvey levou a multidão até anos anos 1990, com um alinhamento carregado de clássicos que marcaram a última década do século passado. Ao longo do concerto, a guitarra não se fez ouvir em alguns momentos, mas nada a atrapalhou.
Mas foi o seu mais recente álbum, “I Inside the Old Year Dying”, editado no ano passado, o mote do concerto no Porto. Com as canções adaptadas do seu livro “Orlam”, a britânica fez o público viajar pelo seu reino espiritual.
PJ Harvey trouxe ainda surpresas (e prendas) para os festivaleiros - já o tinha feito em Espanha -, com “Let England Shake” e “50ft Queenie”, canções que a artista não cantava desde 2017. “A Woman a Man Walked By”, “Black Hearted Love”, “The Desperate Kingdom of Love”, “Man-Size” ou “Dress” também aqueceram os corações do público que celebrou com euforia o regresso da artista a Portugal.
“Down By The Water” e “To Bring My Love” garantiram um final triunfante. PJ Harvey é e será sempre bem-vinda.
Mitski: "Quero que saibam que vos amo"
Já a meio da noite, Mitski também brilhou no Palco Vodafone com a sua voz suave em letras viscerais. “A Pearl, Pink in the Night” “Nobody” e “Washing Machine Heart” foram a banda sonora do clímax do concerto no Primavera Sound.
"Quero que saibam que vos amo. É possível amar-vos sem vos conhecer", disse a artista nipo-americana, acrescentando que "se morresse amanhã, morreria feliz".
No primeiro dia do festival, o Palco Porto recebeu também Silly e Militarie Gun. Já no Palco Vodafone, depois de Royel Otis, os Amyl and the Sniffers contagiaram o público com a sua energia - o quarteto australiano garantiu um grande final de tarde com as suas canções influenciadas pelo rock de pub australiano dos anos setenta .
Esta quinta-feira, o Palco Plenitude recebeu Amaura, Water From Your Eyes,Maria Hein [em substituição de Lankum] e American Football. Ana Lua Caiano, Blonde Redhead, Eartheater e Obongjayar subiram ao Palco Super Bock.
Nesta edição, os concertos dividem-se por quatro palcos, em vez dos habituais cinco, visto que não haverá o palco Beats, dedicado à eletrónica.
A organização deixou de poder alugar os pavilhões ao Sport Club do Porto, algo que “inviabilizou a elaboração de uma programação eletrónica, porque todas as soluções encontradas, a nível de ruído, iriam afetar muito a cidade de Matosinhos e a cidade do Porto”, segundo o diretor do Primavera Sound Porto, José Barreiro, em declarações à Lusa.
No segundo dia do festival, esta sexta-feira, sobem a palco Lana Del Rey, Justice, Lambchop, The Last Dinner Party, Wolf Eyes, The Legendary Tigerman, Classe Crua e Samuel Úria, entre outros.
Os bilhetes para este dia estão esgotados.
Este ano, a tarefa de encerrar o Primavera Sound Porto fica a cargo dos Pulp e The National, num dia que inclui uma homenagem ao músico e produtor norte-americano Steve Albini, que morreu em 08 de maio e esteve em todas as edições do festival com Shellac.
No sábado atuam também, entre outros, Arca, Billy Woods, Expresso Transatlântico, Conjunto Corona, Joana Stenberg e Best Youth.
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