Susana Baca apresenta o mais recente álbum, «Afrodiapora», no dia 09 de maio na Casa da Música, no Porto, e no dia seguinte no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
O álbum reflete as influências trazidas pelos escravos negros «muito provavelmente da costa ocidental» na música peruana, afirmou.
«O ritmo que imprimimos à viola que veio da Europa, é um ritmo africano», disse a cantora que referiu que o «cajón», um instrumento de percussão, é «uma herança africana que entrou no flamenco na década de 1970 depois de uma atuação no Peru do guitarrista espanhol Paco de Lucía no Peru».
«Paco de Lucía veio tocar ao Peru, aí por 1973, e ofereceram-lhe um, antes não há 'cajón' em nenhuma gravação de flamenco», contou.
As influências africanas «estiveram escondidas, por vergonha e discriminando um povo, até nos livros de escola», asseverou a cantora que referiu ter percorrido as costas sul e norte peruanas «onde está fixada a maioria dos afrodescendentes», tendo recolhido histórias e músicas.
A história dos negros trazidos de África foi transmitida no âmbito familiar, fixando-se através da tradição oral. «O que ouvíamos era o que contavam os nossos pais, avós ou um tio, pois o que era transmitido é como se nada existisse, durante muitíssimos anos as referências africanas foi ignorada e era invisível», rematou.
Afrodescendente, Susana Baca afirmou que este álbum é uma «celebração da presença africana nas Américas».
Além das influências africanas, o álbum que Susana Baca apresentará no Porto e em Lisboa, reflete também «as experiências musicais fruto das inúmeras viagens» que fez pelo mundo.«Há referências do Brasil, de Cuba, Colômbia, Argentina ou da Venezuela com os tambores de Guatire», países onde estão instaladas populações afrodescendentes.
Todas a canções são interpretadas em espanhol e «versam temas como o amor, jogam com o duplo sentido das palavras, e cenas do quotidiano», adiantou a peruana. Entre as canções escolhidas, Baca destacou uma de Javier Ruibal que descobriu em Cádiz (sul de Espanha) que «é uma homenagem à mulher africana e tem ritmos do flamenco misturado com africanos».
Esta não é a primeira vez que atua em Portugal e afirma que guarda a memória de«um público que escuta e desfruta profundamente da música».
Susana Baca disse ainda que conhece a música portuguesa e citou Amália Rodrigues que qualificou como «uma maravilha e que inspira a todos». A sua mãe cantou fados de Amália Rodrigues que viu nos filmes e que foi acompanhando através dos discos.
«Há depois um conjunto de seguidoras de Amália que gosto muito, como Dulce Pontes, a Mísia, Mariza com quem partilhei palco e que tem sempre algo novo para dizer, e também Cristina Branco que canta grandes poetas, com quem cantei e que tem uma voz extraordinária», disse.
@Lusa
Comentários