Por muito que alguns dos fãs mais acérrimos dos Simple Minds embirrem com "Don't You (Forget About Me)", canção que atirou o grupo para um considerável nível de mediatismo em meados dos anos 1980 - nem sequer faltou na banda sonora do também emblemático e inevitavelmente datado "The Breakfast Club", de John Hughes -, esse single acabou por ter algo de profético.
Afinal, 35 anos depois do seu surgimento, ainda há quem não se tenha esquecido do grupo, seja por causa dessa canção - e de outras quase tão populares que se seguiram -, seja pelas que a antecederam, entre 1979 e 1982, e que continuam a dominar as preferências de muitos dos seguidores mais fervorosos da banda de Glasgow.
Em entrevista ao SAPO Música, o vocalista, Jim Kerr, reconheceu que esses temas dos seus dias iniciais mantêm uma mística particular, motivo que os levou a optar, finalmente, por uma digressão que lhes é exclusivamente dedicada, satisfazendo os pedidos recorrentes dos fãs:
A 5X5 Live, que arranca esta noite em Lisboa, recorda precisamente cinco canções de cada um dos cinco primeiros discos dos Simple Minds - "Life in a Day" (1979), "Real to Real Cacophony" (1979), "Empires and Dance" (1980), "Sons and Fascination/Sister Feelings Call" (1981) e "New Gold Dream (81/82/83/84)" (1982) -, que além de ganharem uma segunda vida em palco são também reeditados numa caixa especial.
Se foi com estes álbuns que nasceram os Simple Minds, também o pós-punk deve alguma coisa a canções que fizeram escola - e cuja ressonância pode ouvir-se em discos de bandas britânicas recentes como os Horrors ou S.C.U.M..
"Era ótimo fazer parte de uma cena musical ao lado de outras bandas que gostávamos de ouvir, como os Echo & The Bunnymen, The Smiths, Joy Division... era fantástico tocar com eles, fazer parte desse movimento", revela Jim Kerr ao recordar o entusiasmo desses dias e grupos contemporâneos. Depois desse arranque, o balanço de mais de três décadas de música continua positivo. "Somos as pessoas mais sortudas do mundo", admite, reconhecendo que nunca deixou de fazer o que gostava.
"Ao longo destes 35 anos já vimos muita coisa começar e acabar. Revistas musicais, como o Melody Maker, já não estão cá. Editoras pelas quais assinámos já não estão cá. A tecnologia mudou. As lojas de discos desapareceram, ou quase. A MTV nasceu e morreu. Os CDs nasceram e morreram. O walkman nasceu e morreu. E nós ainda estamos aqui. Nós ainda cá estamos e o que fazemos não mudou nada, mesmo que o mundo tenha mudado muito", compara.
O que fazem - e o que querem continuar a fazer - é tocar, ainda que não tenham deixado de editar discos. "Quando estou num ensaio ainda discuto ideias apaixonadamente... nessas ocasiões, sinto-me como se ainda tivesse 16 anos. Tocamos cada concerto como se fosse o último e temos de ser melhores do que o que o público está à espera. Era esse o desafio quando éramos adolescentes e continua a sê-lo hoje", assinala.
O desafio mais recente, ou seja, a nova digressão, tem início agendado para as 21 horas de uma noite que promete ser longa. Os Simple Minds gostam realmente de tocar e não deverão dar-nos menos do que duas horas e meia de concerto - porque há mesmo muito mais canções do que "Don't You (Forget About Me)"...
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