Com a plateia comodamente sentada de olhos postos no palco que se apresentava minimalista e onde apenas descansavam os instrumentos, Rodrigo Leão e os seus músicos deram início ao espetáculo, ansiosamente aguardado, à hora marcada. O silêncio tornou-se sepulcral em cada acorde e em cada canção, apenas interrompido entre as mesmas para se enriquecer de aplausos.

O espetáculo começou com ‘A Praia do Norte’ e de seguida interpretou-se ‘Mar Estranho’ e ‘O Navio Farol’, ambas canções deste seu último trabalho. Ao fim da terceira interpretação da noite, o público gritar “Bravo” e aplaudir calorosamente, só pode ter um significado – Rodrigo Leão já tinha conquistado os corações de cada membro da plateia.
Rodrigo Leão apresenta-se igual a ele próprio, com roupas pretas que o distinguem, e sentado ao piano a orquestrar os seus companheiros desta aventura. O ambiente tornou-se bastante intimista e estas novas canções encontraram uma riqueza maior – a simplicidade dos arranjos e dos acordes que invadiram a atmosfera da sala.

Este novo imaginário composto por Rodrigo Leão remete para as memórias de infância, mas pode ser igualmente subjetivo. A capa do disco faz-nos lembrar a imagem de ”O Principezinho, de Saint Exupéry. Cada canção pode recordar-nos situações simples da nossa vida ou identificamo-las como a banda sonora de um filme. “É um prazer enorme estar aqui convosco esta noite. Vamos tocar a maior parte destes temas novos que fazem parte do disco “A Montanha Mágica” e esperamos que passem uma noite agradável na nossa companhia. Obrigado” – foram as primeiras palavras que Rodrigo Leão dirigiu ao público, que retribuiu com um enorme aplauso.

‘Espiral II’, pertencente ao álbum “Avé Mundi Luminar”, primeiro registo do músico em nome próprio, foi a canção que se seguiu. Depois um ‘Tango dos Malandros,’ que imaginariamente nos remete para Buenos Aires. De seguida, saltámos ‘A Corda’ - tema que pertence ao aclamado álbum “A Mãe”. As luzes em palco apenas se dirigiam para os músicos e apagavam-se em forma de fade out no final de cada música, tornando a interpretação verdadeiramente mágica.

Após ‘Ventozela’ e do tema que dá título a este último trabalho de originais, Rodrigo Leão chamou ao palco o primeiro convidado especial da noite. Diretamente do Brasil, o jovem cantautor Thiago Pethit interpretou de forma prazerosa os temas ‘A Rosa’, pertencente ao álbum “Cinema”, ‘Mapa Mundi’ e ‘O Fio da Vida’, que se trata do primeiro single extraído do recente álbum, cuja sonoridade tem contornos de um samba clássico. “É uma honra e um nervosismo absoluto estar aqui ao lado do Rodrigo Leão. Sinto-me muito feliz por ter aceite este convite” – foram as palavras proferidas por Thiago Pethit, carregadas de emoção.

Novamente, e através da música, Rodrigo Leão desenhou ‘O Baloiço’, soltou ‘A Revolta’ e criou ‘Aviões de Papel’. Nestes novos temas, o músico largou o piano e acompanhou as canções com um baixo - o que fez com que as canções se afastassem ligeiramente do registo clássico que o caracteriza.

O segundo convidado da noite não pôde estar presente fisicamente, o que não impediu que estivesse musicalmente. Desceu uma tela e foi projetado um vídeo cuja imagem pertence à gravação da canção ‘Terrible Dawn’, em estúdio interpretada pelo cantor Scott Matthews. De seguida, o último músico convidado subiu ao palco. Tratou-se de Miguel Filipe que, para além de ter composto a letra e música de ‘O Hibernauta’, também assina a ilustração d’A Montanha Mágica’.

A tela permaneceu em palco e, a ilustrar a canção ‘A Estrada’, as imagens apresentadas misturavam-se entre carrosséis e bailarinas que dançavam ao compasso da canção. Uma verdadeira festa musical que nos leva a acreditar que a linguagem da música é universal. Por momentos, os violinos fizeram soar a voz de Beth Gibbons, mas isso é a magia do som impregnada nos nossos ouvidos. Seguiram-se mais dois temas que compõem o álbum “Cinema” – ‘La Fête’ e ‘Comédia de Deus’.
Para terminar em grande, Rodrigo Leão apresentou os músicos que o acompanharam nesta grande noite. Foram eles Celina da Piedade, Viviena Tupikova, Bruno Silva, Carlos Tony Gomes e João Eleutério. A canção ‘Ya Skaju Tebe’, do antecessor “A Mãe”, arrecadou os aplausos finais.

O público permaneceu em pé em aplausos furtivos e não esperou muito tempo por Rodrigo Leão e os seus companheiros, que regressaram ao palco para um encore de duas músicas, começando com ‘As Ilhas dos Açores’, composição que pertence ao álbum “Avé Mundi Lumina”r. Mas foi ‘Pasión’, interpretada por Celina da Piedade, que apaixonou todos os presentes. Empolgada, quase que num êxtase total, a plateia acompanhou a canção com palmas.

O calor humano acentuou a atenção total e dedicação de todos os presentes. As músicas de Rodrigo Leão são mais do que melodias. São composições com vida e que vivem integralmente no nosso dia-a-dia, como cidadãs do mundo. Tratou-se de uma noite memorável, que seguirá para a Casa da Música no Porto e regressará em Janeiro de 2012.

Texto: Ana Cláudia Silva
Fotografias: Nuno Moreira