Quando os “united colors of” Gift entraram em palco, já a chuva tinha ido pregar para a outra freguesia e um belo dia de sol havia retornado à Cidade do Rock. Contudo, a audiência que se juntou a Sónia Tavares, comparativamente com aquela registada frente ao Palco Mundo nos dias anteriores, foi visivelmente menor.
O público presente, no entanto, mostrou-se recetivo e afável, com as letras dos êxitos da banda de Alcobaça sabidas de cor, e uma Fácil de Entender em modo sing-a-long do princípio ao fim. Antes, houve ainda direito a uma modesta explosão de cores - para além daquela vivida em palco, com os elementos da banda em forte color-block -, com o lançamento de balões coloridos durante RGB.
Para The Singles, Nuno Gonçalves, a segunda figura mais forte dos Gift, juntou-se a Sónia Tavares em dueto, para depois lhe dedicar a canção que se seguiu, Primavera. Com Music, a prestação dos Gift chegou ao fim, em cantoria conjunta com o público, que entretanto fora aumentando, e uma Sónia a agradecer o carinho recebido com beijos atirados aos fãs.
Descalça, como manda a tradição, Joss Stone entrou palco e de imediato saudou os presentes com malabarismos vocais, numa antevisão do desenrolar do concerto. O público deu-se por conquistado desde o primeiro momento, não só pelas mostras de domínio de um portentoso aparelho vocal, mas também pela simpatia demonstrada a cada momento.
No céu, há nuvens que ameaçam voltar, mas no parque Bela Vista vive-se em total veraneio, na fluência acalorada de um repertório assumidamente soul, com muitas novidades para mostrar. Cautelosa, Joss lá foi sondando os fãs, que não pareceram importar-se com tanta música desconhecida, ou não souberam resistir à simpatia enternecedora da cantora.
Os êxitos chegaram a anunciar o final, ainda com uma versão de You Got The Love, celebrizada por Florence and The Machine, pelo meio. Com You Had Me e Right To Be Wrong, como seria de prever, Joss Stone despediu-se do Rock in Rio e dos fãs portugueses, muito gratos pela visita.
O já muito conhecido dos portugueses (e de Portugal) Bryan Adams, não surpreendeu ao relevar-se aposta mais que ganha para esta noite de sábado. Do Canadá, trouxe na bagagem uma panóplia de êxitos datados que a todos são familiares.
Trata-se de mais um regresso ao passado, patrocinado pelo Rock In Rio, nos constantes apelos à nostalgia potenciados pelas propostas em cartaz. Se na semana passada as memórias revividas foram um pouco mais recentes, esta noite o retrocesso foi um pouco mais longínquo, até aos anos 80, e o público, que trouxe consigo uns quantos anos a mais, nem por isso se deixou ensombrar pela concorrência mais jovem. Se a cada balada se prontificou em cantoria compassada, redobrou-se em ânimo a cada sucesso mais rockeiro. Quanto a Bryan, se não fossem as marcas mais físicas da passagem do tempo, dir-se-ia que a idade se esqueceu de lhe bater à porta, a julgar pela imensa energia com que liderou o Palco Mundo.
A fórmula já não é nova e tem vindo a repetir-se nos espetáculos do cantor: chegada a altura de When You're Gone no alinhamento, Bryan Adams tem por costume chamar ao palco um elemento aleatório do público, para se lhe juntar em dueto na interpretação do tema. Esta noite no Parque da Bela Vista, fruto de uma estranha coincidência, a escolhida foi, nada mais nada menos, do que Vanessa Silva, cantora profissional relativamente bem conhecida dos portugueses.
Momento peculiar à parte, o que interessa confirmar é que sim, que Summer of 69 se traduziu no clímax da noite, a registar o maior número de máquinas elevadas em produção de souvenirs de baixa qualidade. E que sim, que facilmente as icónicas Everything I Do, Heaven e All For Love migram do subconsciente até à ponta da língua, por momentos menos envergonhados, e são cantadas em uníssono, em plenos pulmões, como se nunca o tivéssemos deixado de fazer.
A entrada de Stevie Wonder deu lugar a um dos aplausos mais calorosos presenciados nesta edição do Rock in Rio, na reverência e no apreço que se tem por figuras tão lendárias da história da música. Numa amálgama de ritmos, fusões de géneros e até algumas passagens por paisagens musicais brasileiras, ao som de Garota de Ipanema e Você Abusou, o concerto desenrolou-se num clima específico de muito positivismo, em que até o regresso da chuva foi encarado como pretexto para algo melhor, dando lugar a uma versão improvisada de Raindrops Keep Falling In My Head de Burt Bacharach.
Foi neste clima de bom humor e de serenatas à chuva miudinha dedicadas aos portugueses que o carismático Stevie Wonder se apresentou em palco, munido de uma máquina muito bem oleada de músicos talentosos, da qual faz parte Aisha, filha do cantor. Isn't She Lovely, música por si inspirada, foi o mote para que fosse chamada junto do pai, para que este lhe pudesse mais uma vez dedicar a canção.
O momento mais aguardado da noite, naturalmente, I Just Called to Say I Love You, foi também a óbvia deixar para que os telefones fossem tirados dos bolsos e se tivesse redobrado com os muitos ouvintes que se encontravam, distantemente, do outro lado da linha. Mas esta primeira vinda de Stevie Wonder a Portugal não se deixou ficar por aí, ainda com cartas fortes por jogar. Superstition, hino funk por excelência, fez-se soar por volta das três da manhã, ainda assim recebido em delírio de movimentos que ainda valeram ao público a recompensa de um pequeno encore e do muito amor genuinamente proclamado ao público português.
No Palco Sunset
A estreia de Ana Free, acompanhada pelos The Monomes, nos palcos do Rock In Rio deu-se ainda a chuva se fazia sentir. Em compensação, a cantora que saltou das janelas do youtube para a boa graça dos portugueses, beneficiou com o público familiar que se deslocou até à Bela Vista.
No alinhamento seguiram-se os recém galardoados Amor Electro, mais o brasileiro Paulinho Moska, para mais uma atuação de fusão luso-brasileira, na qual A Máquina não pode faltar.
Luís Represas, João Gil e Jorge Palma passearam-se pelas três discografias, ao pôr-do-sol, num momento que receamos poder dar origem a mais um supergrupo tuga.
Numa referência à edição de 2013 do Rock in Rio a realizar-se em Buenos Aires, os argentinos Los Pericos, à parte do regime colaborativo, animara o Palco Sunset.
Concerto Molhado, Palco Abençoado
Bem diz a sabedoria popular: “casamento molhado, casamento abençoado”. E em boa verdade, comparativamente, o espaço Vodafone Showcases registou este sábado uma afluência bem mais simpática do que nos dias anteriores.
Os Asterisco Cardinal Bomba Caveira estrearam-se no rock in rio, perante um público encapuzado, e no meio do seu pop rock adolescente ainda se desculparam pela chuva “desculpem lá a chuva mas não pudemos fazer nada”.
Da Maia, os Salto, duo composto por Gui Tomé Ribeiro e Luís Montenegro, trouxeram-nos pop dançável, num ambiente descontraído que, apesar de não ter beneficiando das melhores condições sonoras, pareceu cativar o público, que facilmente aceitou os convites para “bailar”. Já com a chuva fora de cena, os Salto, apresentaram-nos Luvas de Futebol, tema a ser editado num futuro disco, e ganharam o jogo com Por Ti Demais, canção mais conhecida, deixada para o final.
Meia hora antes que o previsto, lá para a meia noite, os Ladrões do Tempo, projecto composto por conhecidas e reputadas figuras da música da nossa praça, encerraram as hostes no espaço Vodafone . Antes, ainda subiram ao mini-palco os Macacos do Chinês, para um pequeno concerto de sonoridades mescladas numa portugalidade acentuada pela incursão da guitarra portuguesa, e o indie pop simpático dos You Can't Win Charlie Brown.
Texto: Ariana Ferreira
Fotografias: Filipa Oliveira
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