"Tenho uma colaboração já de há um tempo com a Orquestra Chinesa e fui convidado para escrever umas peças para essa orquestra e para estar aqui para me ambientar com o Macau de agora, que faz uma diferença gigantesca", explicou Rão Kyao à agência Lusa depois de ter atuado na noite de terça-feira no jantar comemorativo do Ano Lunar da Serpente, organizado pela Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC).
Rão Kyao disse que a Orquestra Chinesa pretende um retrato musical da nova cidade, que o músico vê como uma "Las Vegas chinesa".
Mais de 13 anos depois da transferência de poderes de Portugal para a China, quando tocou num sarau cultural, Rão Kyao recorda a antiga cidade de que "gostava mais", porque tinha "o privado e o público". "Tinha uma certa coisa intimista e uma reminiscência do português em Macau que nós sentíamos e que está a desaparecer completamente", acrescentou.
Declarando-se um apaixonado por Macau, Rão Kyao tem, contudo, saudade de outros tempos, de uma "Macau que era o português com o chinês, aquela coisa, um bocado mais sossegada". "Quando fiz o ‘Junção' com a Orquestra Chinesa, esse disco já era a pensar no Macau anterior, aquele que eu conheci”, disse o músico, que rejeita uma atitude ser um “saudosista daquele cerrado”. “Mas de certa maneira acho que Macau tinha aqui uma situação única, que era aquela coisa do português no Oriente, que tem muito a ver comigo, e que, na realidade, agora é diferente", disse.
Sobre os 500 anos da presença portuguesa em Macau, o músico realçou que desejava ver um "significado”, no sentido de se compreender que “é uma coisa que teve uma força real e única no mundo". "Este cantinho aqui, onde nunca houve grandes tensões, prova muito da maneira do português, da sua maneira de ser e de como ele se ligou com o chinês que não é fácil”, sustentou, acrescentando que “não convém deixar desaparecer da história esta presença“.
@SAPO/Lusa
Comentários